Por RODRIGO ÍNDIO
Esta semana, o Residencial Jardim Açucena virou manchete dos principais veículos de comunicação do Amapá em razão de dois crimes que ocorreram quase simultaneamente, na tarde da última quarta-feira (18).
Os acontecimentos geraram inúmeros debates de grande repercussão nas redes sociais. As discussões eram se o local teria maioria de moradores criminosos e o ambiente perigoso para se viver. O portal SelesNafes.com foi em busca de respostas.
Neide Oliveira, de 30 anos, mora com os três filhos próximo ao bloco onde ocorreram os crimes. Secretária, ela opinou sobre as ocorrências e ressaltou que a grande maioria dos moradores são pessoas de bem, trabalhadoras que lutam para ter uma vida digna.
“Foi uma coincidência rara de acontecer numa tarde, porque crimes têm em toda a cidade. Nem foram com moradores daqui, mas no fim, o nome do residencial fica mal falado porque generalizam. Nós moradores de bem sentimos até um certo preconceito por parte dos outros bairros com quem mora nos residenciais…”, explicou.
Ela destaca que existem iniciativas sociais que não são mostradas pela imprensa e critica que a mídia só enfatiza notícias ruins.
“Há projetos aqui que descobrem talentos. O engraçado é que só mostram a desgraça, não mostram as coisas boas daqui, isso é triste porque, aqui, existem vários exemplos de cidadãos dignos, isso sim merece mídia”, acrescentou.
Neide apontou um local dentro do Açucena que retrata aspectos positivos do conjunto. Na quadra três tem um espaço todo arborizado. O ambiente é cuidado por quem busca uma qualidade de vida. Ali, o primeiro pé de Ixora [arbusto muito apreciado nas regiões de clima quente] foi plantado pela diarista Maria Agna, de 63 anos.
Todos os dias, ela acorda cedo para regar as plantas, que cuida como membros de sua família. Com simpatia peculiar, ela conta porque teve a iniciativa.
“Sempre tive amor por plantas. Quando me mudei pra cá, trouxe várias comigo para deixar o local mais bonito, organizado e dar vida, até porque aqui é muito quente e com as plantinhas fica bem melhor. Quem tiver planta pode doar porque eu pretendo continuar deixando esse espaço bonito”, garantiu Maria.
E o espaço é conservado e bonito porque dona Maria Agna fiscaliza e chama a atenção de quem tenta destruir alguma plantinha.
“As crianças e adultos vêm jogar bola aí nesse espaço onde ficam as plantas e ficam machucando elas, eu brigo mesmo. Não pode destruir o que é nosso, temos que ter educação”, enfatizou.
São mais de 100 plantas, entre ornamentais, medicinais e frutíferas, que rodeiam o entorno dos apartamentos. Layla Sayara, de 26 anos, é filha de dona Maria e pinta pneus para ajudar a mãe a embelezar o habitacional.
“Ainda criança aprendi a desenhar, do nada inventei de pintar porque achava bonito. Quando ela [Maria] começou a fazer isso aqui eu gostei, mas olhava o pneu lá jogado só de uma cor e achava muito triste, falei: ‘com desenho fica mais bonito’. Então, decidi decorá-los. Agora estamos aí deixando tudo mais alegre”, detalhou Layla.
No Açucena, num universo de 4 mil pessoas, divididas em 1,5 mil apartamentos e casas, em 75 blocos espalhados por 7 quadras, Dona Maria e Layla são apenas um dos diversos exemplos de moradores que residem em habitacionais, que buscam cuidar do ambiente onde vivem e mostram que nesses locais moram pessoas de bem.
No conjunto também funcionam sete projetos sociais em parceria com a Prefeitura de Macapá, são eles: Anjos da Guarda, Ballet Primeiros Passos, Capoeira, Comitê Ambiental, Escolinha de Futebol (foto de capa), Feira do Empreendedor e Tome Notas.
Cerca de 360 crianças, adolescentes e adultos participam das ações. Os conjuntos Açucena, Mucajá e São José, que ficam dentro da área urbana de Macapá, vivem com o fenômeno de violência, mas têm boas coisas e curiosidades para se contar.