Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Um grupo de artistas de rua do Amapá deu novo visual à paisagem altamente urbana do Conjunto Mucajá, no barro Beirol, na zona sul de Macapá.
Na vertente artística da grafitagem, quatro blocos receberam desenhos com altura média de 8 metros. Apesar do tema livre, as gravuras não deixaram de retratar a cultura local, com figuras do folclore amapaense, a exemplo de índios e pássaros peculiares.
O artista de rua Nomede, de 39 anos, foi um dos autores das obras de arte. Ele falou da emoção de grafitar desenhos de grande altura.
“Nunca fiz uma obra daquela altura. Então, foi um desafio ir vencendo o medo de altura, mas rolou, rolou bacana. Em dois dias junto com o Igum D´jorge com a temática bem referencial à nossa região, a questão do alimento como o camarão, a questão do indígena”, explicou Nomede.
Ele também ficou muito satisfeito com a aceitação dos moradores em relação à sua arte.
“A recepção da comunidade foi muito boa, as pessoas vinham oferecer café, dizer que tinha um pão. As crianças com curiosidade e a gente explica. Foi demais, foi uma experiência fantástica”, exclamou o artista.
Algumas das obras tiveram a participação de dois ou mais artistas de rua do Amapá. Eles concluíram as obras em 5 dias, no período de 10 a 15 de agosto. A arte teve pouca divulgação nos veículos de comunicação, mas viralizou nas redes sociais amapaenses nos últimos dias.
A iniciativa no Mucajá é uma das ações do Circuito Traços, projeto que agrupa dezenas de atividades da arte de rua do Amapá, com intervenções previstas para ocorrer entre agosto e outubro deste ano.
“O Circuito Traços é um festival de arte urbana. Tivemos oficinas nas escolas, grafites em outros lugares abertos, e teremos exposição de arte também dentro de galerias. As atividades prosseguem até o dia 13 de outubro”, explicou Lene Moraes, uma das organizadoras do projeto.
A escolha do Mucajá para receber a intervenção tem relação, é claro, com as grandes paredes dos prédios de apartamentos. Mas, o local foi escolhido também porque um dos artistas, o grafiteiro Cotonete, foi morador de lá. Apesar de não morar mais no conjunto, até hoje familiares ainda estão na comunidade.
“Eu fui com a comunidade, em cada bloco, explicando que a gente queria fazer um trabalho artístico para trazer uma nova cara para a comunidade, porque não teve nenhuma pintura, nenhuma reforma e os moradores abraçaram a ideia. Até teve bloco que ficou receoso, mas depois viram a arte fluir e chamaram a gente. Eu fui morador dali e é muito gratificante. Plantamos uma semente”, declarou Cotonete
Ele agora se anima com a ideia de transformar a intervenção em um projeto social na comunidade.
A próxima atividade do Circuito Traços será a exposição de artes “Margens” que ocorrerá nos dias 19 e 20, nestas quinta e sexta-feira, na Galeria Fátima Garcia, localizada no bloco do curso de Artes Visuais do Campus Marco Zero da Universidade Federal do Amapá (Unifap).