De um hotel aterrorizante, a uma experiência maravilhosa…

Nesta aventura que muitos viajantes já enfrentaram, tem espaço para sustos, bom humor e belas imagens do Estado onde o Brasil foi descoberto
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Por GESIEL OLIVEIRA

Ilustrações: ROBERTO VANDERLEY DELTA

Vou contar pra vocês o que me aconteceu recentemente, em uma madrugada, quando cheguei a Salvador/BA. Eu estava com pouca grana e fiz uma reserva por um aplicativo virtual em um hotel meia boca na região do Pelourinho. Já ouviram falar na história do “barato que sai caro?”, pois bem, essa aqui é uma delas.

Cheguei às 04h30min da manhã de 12/09/2019 com a minha mala pesada na mão, em um local silenciosamente soturno. Ninguém anda pelas ruas naquele local e naquele horário da madrugada.

Por trás da Praça da Sé há uma área muito perigosa, onde ocorrem constantemente muitos assaltos. O UBER demorou a encontrar o local e ficamos rodando, e a cada esquina meus cabelos arrepiavam em ver vielas tão assustadoras.

A primeira surpresa que tive ao chegar ao endereço sombrio foi saber que o elevador estava quebrado, e que o hotel funcionava no 7º andar de um prédio muito antigo e escuro. Entrei dando dois espirros sequenciais. Parecia que eu era a única alma viva ali.

Vigia muito alto assustou logo na chegada

Ambiente muito velho, poeirento, mofado, portas que rangiam, corredores enormes e escuros, tudo em meio a um silêncio absoluto da madrugada baiana.  Um vigia de uns dois metros de altura apareceu do meio da escuridão com uma roupa preta e um cacetete na mão.

Parecia uma mistura de “Frankenstein” e “Slenderman” na versão baiana, com uma lanterninha na mão, com uma voz extremamente grossa, que veio em minha direção para me receber dizendo: “pegue a sua mala e suba pela escada até o 7º andar, onde fica o hotel”.

Eu já havia enfrentado uma viagem aérea de 13 horas, com escalas em Brasília e São Paulo, e estava destruído de cansaço. E agora eu ia subir uma escada que não tem fim.

Sete andares carregando bagagem, depois de 13 horas de viagem

Não podia sair na madrugada em busca de um outro hotel àquela altura, porque aquela região do Pelourinho tem muitos drogados perambulando pela madrugada. Não havia outra forma, e comecei a subir a escada com aquela mala pesada no ombro, e a cada andar que eu passava subindo, eu gritava e percebia que não tinha ninguém.

Visões assustadoras

Cheguei no último andar me arrastando e com língua pra fora. Absolutamente suado e cansado, carregando uma mala pesada que àquela altura parecia um piano. Aí que me dei conta que eu estava sozinho ali, diante de corredores fantasmagoricamente medonhos, abandonados e escuros.

Uma luz automática se acendeu assim que pisei no 7º andar, que iluminou exatamente acima da minha cabeça, deixando o restante do corredor no escuro. E em meio à penumbra, ali encontrei um corredor imenso, silencioso, em meios as trevas da madrugada, sem ninguém.

Susto ao ver as paredes

Foi então que me dei conta de que eu estava em um ambiente de cheio de imagens, pinturas e formas estranhas. Com as paredes cheias de quadros, com figuras pretas com chifres, com olhos arregalados, dentes horríveis e estátuas enormes me encarando, com figuras que tinham chifres e pés de bodes. Uma coisa horrível! Tive a impressão que fiz uma reserva num hotel de filme de terror.

A essa altura, um frio subiu pela minha espinha, as minhas pernas cansadas e fracas encontraram no medo forças para descer correndo os 7 andares numa velocidade que até me surpreendeu.

…e abrigo em hotel do outro lado da praça

A lei da gravidade me ajudou, e ali pude entender na prática a máxima “pra baixo todo santo ajuda”. Cheguei no térreo suado, assustado, ofegante, pálido e fui direto ao vigia perguntando: “Puxa por que você não me disse que não tinha ninguém aí nesse prédio?”

Ao que ele me respondeu, meio que com uma risadinha de deboche: “você não me perguntou!”. Pense num cidadão folgado!

A linda Salvador

Saí de lá na mesma hora, atravessei as ruas me arriscando, e fiquei hospedado no hotel do outro lado da praça, bem menos medonho, em frente à um antigo cemitério tombado pelo IPHAN, porque em Salvador tudo é muito antigo.

No centro histórico temos a impressão que voltamos uns 300 anos no tempo, andando em ruas de pedras arredondadas pelo tempo, entre estátuas de Zumbi dos Palmares, o Elevador Lacerda, o acarajé da baiana simpática, a Praça da Cruz caída, o Largo do Pelourinho e a brisa refrescante da Baia de Todos os Santos.

Cidade respira história…

…e cultura

Cidade tombada

Eu segui, olhando pra tudo como uma criança encantada e impressionada com a riqueza cultural daquele lugar. Há hotéis lindíssimos e luxuosos, pena que meu bolso não estava à altura naquele momento.

Não esqueça que o Brasil foi descoberto por lá. Então facilmente se encontram coisas, imóveis e lugares antiguíssimos. A região do Pelourinho, que no passado testemunhou tanta tortura, dor e sangue dos escravos, e que recentemente, escavações encontraram um cemitério muito antigo, hoje é um dos cartões postais da Bahia, pois exala cultura, história e arte.

O que eu vi durante o dia, superou tudo que passei naquela madrugada. Sem dúvida vale a pena conhecer Salvador. Lugar lindíssimo, povo alegre, onde a natureza foi bondosa e bela.

Natureza foi bondosa com Salvador. Fotos: Gesiel Oliveira

Seles Nafes
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