Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Dia 26 de setembro para a Igreja Católica, e dia 27 de setembro para as religiões de matriz afro, é o dia em que se comemora São Cosme e São Damião, os padroeiros das crianças.
No Amapá, não há nenhuma paróquia da Igreja Católica em que o padroeiro seja São Cosme e São Damião. A distribuição dos doces às crianças fica por conta mais de indivíduos e de associações, ou casas de religiões como de Umbanda e de Candomblé.
O portal SN visitou uma casa que preparou um momento de festividade com as crianças no bairro Jardim Felicidade I, na zona norte de Macapá. Trata-se de uma festa com almoço, distribuição de cestinhas de doces e brincadeiras para as crianças carentes das proximidades da casa.
“Estamos comemorando esse dia com muita alegria, porque São Cosme e São Damião são os protetores das crianças. Com muitas brincadeiras, pula-pula, doces e a gente acaba levando um pouco de alegria onde a vida é mais difícil. Esse ano estamos fazendo aqui na zona norte, mas já fizemos em outros anos em outros lugares da cidade”, afirmou a fisioterapeuta Mirreth Karoliny Ramos, de 26 anos.
Tolerância e intolerância
Após os jogos, comidas e doces, a festividade da casa seguirá com a realização de uma missa católica rezada em latim, uma comprovação mais da mistura de símbolos e rituais entre as religiões.
Mirreth afirma que há ainda muito desconhecimento e pessoas que tentam macular a imagem do dia e dos doces distribuídos, como se fossem “doces do capeta”, o que ela esclarece se tratar de um desconhecimento e também de um desrespeito.
“Hoje mesmo aconteceu de uma criança de outra religião pedir o doce, consagrar o doce, para depois comer. É claro que alguém colocou na cabeça dessa criança que aqui há algum tipo de maldade. São Cosme e São Damião já abençoaram, os erês e Deus também. É falta de informação. Criança não faz mal para ninguém. Nós estamos aqui só levando um pouco de alegria para essas crianças. Mas isso é menor, o mais importante é unir a comunidade e comemorarmos juntos e fazermos o bem.”, finalizou Mirreth Ramos
“É o nosso dia das crianças!”
Alessandro Brandão, jornalista, historiador e membro do Movimento Juventude de Terreiros do Amapá, relata que tanto para o candomblé quanto para a umbanda, Dia de São Cosme e São Damião é o seu Dia das Crianças.
“No candomblé, existem orixás que também são gêmeos, então se associou, se sincretizou tanto São Cosme e Damião como Ibeijadas, que é um orixá gêmeo do candomblé e também presente na Umbanda. As religiões de matriz africana pegaram muito para si a responsabilidade de festejar os santos, distribuindo doces, fazendo tambores para essas crianças. No candomblé existem as divindades crianças que chamas de ‘erês’ e na umbanda chamamos de ‘curumins’. O Dia da Criança da religião de matriz africana é no dia 27 de setembro”, explicou Alessandro.
História
Além das crianças, os cirurgiões, as faculdades de medicina, os farmacêuticos, dentre outros, têm como padroeiro os dois irmãos que viveram na Ásia Menor, por volta do ano 300 D.C.
A história conta que Cosme e Damião eram irmãos gêmeos, médicos, que professavam sua fé cristã em uma era em que os cristãos eram muito perseguidos. Cuidavam dos enfermos de graça e tinham uma relação especial com as crianças. Morreram como mártires, sem abdicar da fé cristã, como ordenou o imperador de Roma, Diocleciano (244-311 D.C).
Sua associação ao costume cada vez maior de pessoas de diversas religiões ou mesmo sem crença alguma distribuírem balas e guloseimas para crianças, vem dessa relação que eles têm marcada com as crianças nas liturgias religiosas.