Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Nesta quarta-feira (23), foram liberados os oito brasileiros que haviam sido presos em região de fronteira entre o Amapá e Guiana Francesa. Já em solo brasileiro, eles relatam que foram tratados com violência, ao serem capturados pela polícia francesa no lado francês do Rio Oiapoque, na região da Grand Roche, na terça-feira (22).
Dentre os presos, estavam duas mulheres e um idoso. As cargas, o mantimento das famílias, também foi apreendido, mas foi liberado junto com os trabalhadores.
Os brasileiros relatam que, sem saber falar o idioma, do pouco que conseguiam entender, era que estavam sendo acusados de entrar de forma ilegal no país vizinho. O grupo nega e alega que os canais e as pedras são a única forma de chegar até as localidades. Além disso, os moradores da região afirmam que eles fazem essa viagem há muito tempo.
Edicleuma Araújo dos Santos, de 28 anos, conta que ela e os outros passageiros estavam indo da sede do município de Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, para a Vila Brasil, passando pela localidade de Ilha Bela, onde ela mora com seu marido e seus dois filhos.
“Os gendarmes [polícia francesa] chegaram atirando na gente. No momento, a gente estava em cima da pedra, porque lá é melhor de fazer a viagem, é mais seguro e o outro lado agora de verão fica muito perigoso. Mas eles nem conversaram, chegaram atirando na nossa direção. Foi um absurdo, pânico em todos nós”, declarou a dona de casa.
Algumas pessoas caíram na água e outras conseguiram fugir, pulando para dentro dos barcos. Mas a maioria foi presa, após momentos de pânico e tensão. Na própria embarcação dos brasileiros, os policiais conduziram os detidos para a sede da PAF, a polícia de fronteira.
Em um vídeo gravado pelos brasileiros, é possível ouvir os tiros da ação, quando os moradores de Oiapoque já estão sendo conduzidos do lado francês. A narradora do vídeo está do lado brasileiro. Assista:
Fome e maus tratos
Na prisão, os brasileiros contam que, por terem sido presos antes do meio-dia, nenhum deles tinha almoçado. E assim ficaram até hoje, pois também não tiveram janta. Receberam apenas pão e água.
Edicleuma contou que foi humilhada e agredida. Como estava menstruada e precisava trocar de roupa, pediu aos policiais para usar o banheiro, mas eles não deixaram. Quando lhe deixaram ir ao banheiro fora da cela para urinar, um policial chutou a porta para bater nela.
“Foi humilhante. Eu faço essa viagem há 12 anos e isso nunca aconteceu. Passamos fome, apanhei, porque em outro momento eles me empurraram, e não pude nem me trocar. Nem sei bem o que dizer”, contou abalada.
Prefeitura de Oiapoque
Quem acompanhou de perto o caso dos brasileiros foi Isaac Silva, titular de relações internacionais da Prefeitura Municipal de Oiapoque. Crítico à ação, Silva está acompanhando o caso e apoiando as famílias.
“Como eles estão combatendo garimpo ilegal e a imigração clandestina, então deduzem que essas pessoas vão trabalhar nessas áreas. Eles prendem e quando é para a Vila Brasil, como esse caso, eles liberam, mas depois de todo o constrangimento e a violência. Precisamos urgentemente tratar com as autoridades brasileiras e franceses e que esses moradores tradicionais da calha do Oiapoque possam ir e vir. Pode acontecer uma tragédia a qualquer momento por conta dessa nova abordagem que eles estão adotando”, declarou Isaac Silva.