Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
As professoras de língua portuguesa Ivaneli Guimarães e de matemática Liliany Felix de Oliveira acreditam que estão sendo vítimas de perseguição política e assédio moral por terem apoiado uma manifestação de estudantes.
As educadoras trabalham na Escola Estadual Mário Quirino, no bairro Congós, zona sul da capital. Na unidade de ensino, elas foram alvo de um boletim de ocorrência feito pela diretora em exercício.
No dia 14 de agosto, os estudantes fizeram uma manifestação cobrando o conserto de ar condicionados, bebedouros e a melhora na qualidade da merenda escolar.
Dentre vários cartazes, um deles dizia: “Cadê o dinheiro roubado da merenda dos alunos?” e esse foi o motivo alegado pela diretora adjunta da escola, Leilane Palheta da Silva, para registrar ocorrência contra as duas professoras, Ivaneli Guimarães por ter apoiado a manifestação, e Liliany de Oliveira por ter escrito o cartaz.
As professoras alegam que todos os professores da unidade apoiaram o ato pacífico de estudantes e que o cartaz é genérico, ou seja, refere-se ao roubo de merenda que já foi denunciado no Estado e que a professora Liliany ajudou nas letras de outros cartazes, mas não desse em questão, o que é confirmado, inclusive, pela diretora.
As professoras enxergam no ato da diretora adjunta uma tentativa de retaliação por suas posições políticas, por terem a característica de questionar os problemas que possam ocorrer na escola e também por terem realizado ao longo dos anos várias ações cobrando os reparos e a atenção que a unidade escolar merece.
“Eu completei esse ano 25 anos no Estado e nunca passei por uma situação tão constrangedora. Isso me abalou emocionalmente, me feriu muito como educadora, porque sempre fui uma professora de luta pelos meus alunos, estou no fim de carreira, me sinto magoada e no Mário Quirino eu e outros colegas tivemos tantos projetos para os alunos e eu sinto que saí da escola como se eu fosse nada. Eu tenho uma carreira linda, baseada no amor à minha profissão e eu não consigo me imaginar na frente de um juiz, isso dói muito”, declarou, emocionada, Ivaneli Guimarães.
Diretora
A diretora Leilane Palheta da Silva nega que o boletim de ocorrência que registrou ocorra em retaliação ao apoio das professoras à manifestação, afirmando que fez a queixa para resguardar sua honra.
Na condição de diretora em exercício, os recursos da merenda são administrados por ela e se os mesmos foram roubados, como acusa o cartaz, é a ela a quem estavam se referindo.
A diretora admite que o relacionamento com as professoras não é bom há algum tempo.
“Eu tenho um certo conflito com essas professoras desde antes de eu ser diretora, quando eu era secretária escolar. Antes disso, a gente se dava bem e eu não sei precisar quando começamos a ter esse conflito. Quando eu assumi a direção da escola, tive que tomar atitudes que podem não ter agradado a todos, não dá pra agradar todo mundo, mas em nenhum momento eu agi com assédio moral. Quem me conhece sabe que sou calma, de diálogo, só que pela ostensividade das minhas colegas a gente não conseguiu dialogar de forma produtiva”, declarou a diretora Leilane.
Apesar de tudo, a diretora acredita que na audiência que terão na próxima semana, é possível se chegar a uma conciliação e resolver o problema.
Audiência
Na próxima terça-feira (15), as professoras estarão frente a frente em uma audiência no Juizado Especial Criminal, às 9h, no Fórum Desembargador Leal de Mira, região central de Macapá.
A audiência pode terminar com um acordo entre as partes ou não havendo entendimento, o processo poderá seguir e percorrer outras instâncias do judiciário.
Enquanto isso, a professora de língua portuguesa Ivaneli Guimarães já saiu da escola por sua própria requisição e a professora de matemática Liliany de Oliveira continua na Mário Quirino.
Foto de capa: enviado pelas professoras