Por RODRIGO ÍNDIO
Motoristas de Macapá denunciam abuso e coação de guardadores de carros no Centro da cidade. Eles alegam que alguns dos “flanelinhas”, como são popularmente conhecidos, estipulam preços que se o condutor não pagar tem o carro danificado.
Uma condutora, que preferiu não se identificar, disse ter estacionado o carro na Avenida Padre Júlio e que após descer do veículo e ir caminhando pela calçada, um homem passou por ela e se ofereceu para reparar e lavar o carro. Ela negou o serviço e teve uma surpresa quando retornou.
“Não tinha muito dinheiro então quando ele falou isso pra mim eu disse: não, obrigado e ele ficou me xingando. Quando retornei uns 20 minutos depois os dois pneus do meu carro estavam murchos e o cara sumiu. Fiquei arrasada porque estava com pressa e acabei perdendo o compromisso. Ainda bem que um amigo me ajudou. É horrível você não poder estacionar em um lugar público sem ter que pagar algo”, lamentou.
O advogado Pablo Nery esclareceu que a questão se aplica ao artigo 158 do código penal, no qual diz sobre o crime de extorsão.
“Constranger alguém mediante a violência ou grave ameaça, com o intuito de obter para si vantagem econômica indevida, é crime sim. Basta a vítima chamar a polícia porque inclusive pode ser feito o flagrante ou ir na delegacia registrar boletim de ocorrência. Caso haja apenas o dano, é caracterizado o crime 163 do Código Penal, se houver somente a ameaça é o artigo 147 do Código Penal”, explicou o advogado.
O portal SelesNafes.com foi até o local, mas os flanelinhas que atuam na área negaram o fato e não quiseram falar sobre o assunto. Já em outro ponto, localizado na Avenida Coriolano Jucá, 12 trabalhadores atuam fazendo o serviço e defendem a categoria.
Pai de 5 filhos, Valdinei Castro Miranda, de 34 anos, exerce a função de guardador e lavador de carro autônomo há anos. Dos serviços, ele tira o sustento de sua família e diz que a população não pode julgar e generalizar os flanelinhas pela falha de alguns.
“A gente só vem pra trabalhar, já que temos família pra sustentar e não tem oportunidade de emprego. Nosso sustento vem da rua. Aqui é um local público, a pessoa estaciona onde quiser e paga se quiser, não é porque ela não paga que vamos arranhar o carro dela, deve ter gente por aí que faz isso, e infelizmente por um paga todos. A gente acha muita gente para julgar e pouca para ajudar. Mas antes estarmos aqui do que roubando. Queremos só respeito”, disse.
Segundo a Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá (CTMac), não existe nenhuma regularidade no serviço que é feito pelos flanelinhas. A pasta afirma ter finalizado recentemente um processo para elaboração do termo de referência e que em no máximo 30 dias será lançada uma licitação para que o serviço de estacionamento rotativo seja ofertado em Macapá já no próximo ano.
“Vamos ter uma empresa, ou empresas, depende se vamos fazer em lotes, que vão organizar esse processo de estacionamento rotativo e que vai fazer justamente que as pessoas possam ter um espaço de estacionamento democratizado, não é você pagar para estacionar, é você ter oportunidade de estacionar em locais que são próximos a grandes centros comerciais”, disse o diretor-presidente da CTMac, André Lima.
André Lima falou também o que acontecerá com os flanelinhas quando o sistema for implantado.
“Com relação aos flanelinhas, se eles vão ser absolvidos ou não, vai depender muito da empresa e obviamente da característica de cada um. Ou seja, se cada um poderá estar enquadrado nesse sentido. Além disso, a gente vai ter ali umas contrapartidas com relação a sinalização que vamos colocar no edital e também fazer com que a empresa gere um sistema de bicicletas compartilhadas. Creio eu que em no máximo 30 dias a gente consiga licitar isso e a implantação vai se dar a partir de janeiro de 2020”, finalizou André Lima.