Por RODRIGO ÍNDIO
Perto de completar três décadas na PM, o capitão Sebastião Amorim, de 49 anos, tem muita história para contar. Ele lembra que uma das que mais marcou sua carreira profissional ocorreu quando ele trabalhava no vale do Jari.
O ano era 1999, havia um estuprador que fingia ser evangélico, ganhava a confiança dos pais de jovens moças carentes e as levava para supostamente trabalhar em outra localidade, com a promessa de que elas ganhariam bons salários e seriam bem de vida.
Porém, no meio da viagem o homem falava que tinha que descer para esperar uma picape que iria lhe buscar e anunciava o estupro com uma faca em punho. Mais de 10 meninas foram vítimas do estuprador que amedrontava a população da região. Sebastião Amorim e sua equipe iniciaram uma caçada pelo criminoso e conseguiriam prende-lo.
“Ele estava prestes a fazer mais duas vítimas, mas a gente foi mais ágil e conseguiu tirar esse estuprador de circulação. Ficamos reconhecidos pelo povo do Jari e foi muito gratificante saber que tiramos das ruas um criminoso que fazia muito mal para muitas famílias. Isso marcou a minha vida além de outras ocorrências onde evitamos vários crimes. Vou sentir falta de tudo isso”, orgulhou-se e lamentou o capitão.
Mas o que fazer para não se prender a atinga vida de policial operacional e deixar a depressão e outros males consumirem a mente?
Pensando em seguir a vida de forma saudável, Sebastião Amorim e outros militares, participaram da abertura do projeto “Preparação para a reserva remunerada”, destinada aos policiais militares que estão em processo de passagem para a reserva. São pelo menos 110 PM’s que estão inscritos a participar da programação que segue até sexta-feira (1).
“O policial cria um laço com a Polícia Militar, então nada mais justo do que fazer essa preparação pra que ele possa ter uma qualidade de vida em sua aposentadoria e não entre em depressão e não cometa suicídio. Esses cursos farão que a gente reduza esses dados no Brasil afora e no Amapá não é diferente”, comentou o tenente-coronel Petrúcio.
Segundo a psicóloga Goreti Matos, o objetivo é realmente auxiliar esses profissionais a enfrentarem de forma saudável a nova fase de suas vidas, proporcionando-lhes meios para a prevenção e planejamento pessoal após a inatividade.
“Queremos ajudar esse profissional a seguir a vida. Para isso teremos palestras sobre saúde física e psíquica, planejamento futuro, gestão de recursos financeiros, relacionamento familiar, lazer e vida social. Temos conhecimentos de diversos casos que o militar teve diversos problemas por sentir falta da rotina militar. Estamos aqui para evitar isso”, enfatizou Goreti.
Mãe de dois filhos, a capitã Christianne Germano, fala que esse é um momento que expressa a sensação de dever cumprido. Ela detalhou acerca da importância da programação realizada esta semana.
“A gente como militar fica focado somente em nosso trabalho, e quando tem essa transição pra irmos para a reserva, observamos que têm muitos amigos que não estão preparados. Eu, particularmente, estou buscando empreender e curtir minha família. Essa reunião é importante para que a gente possa se preparar para ter um norte do que fazer daqui pra frente e ter uma perspectiva de vida”, opinou.