Por RODRIGO ÍNDIO
No último domingo (6) ocorreu a eleição para Conselheiro Tutelar em todo o Brasil. Na zona norte de Macapá, entre os cinco eleitos, apenas uma mulher conseguiu garantir uma das vagas para atuar no quadriênio 2020-2024. Atualmente, atuam três conselheiras na zona norte. Duas delas disputaram esse pleito mas não conseguiram a reeleição.
Natural de Castanhal no Pará, Regiane Cunha, tem 39 anos, é casada, mãe de 4 filhos, advogada e chegou no Amapá aos 2 anos de idade. Cresceu no bairro do Trem. Aos 14 anos começou a atuar no movimento estudantil social, presidiu grêmio da Escola Santa Inês e se tornou presidente da União da Juventude Socialista no Amapá.
Aos 19 anos, se juntou ao grupo que criou a Federação de Mulheres do Amapá (Fêmea) e militou na Federação de Juventude do Amapá (Fejap). Disputou a eleição do Conselho Tutelar em 2015 e obteve 598 votos, não se elegeu. Em 2019, foi a segunda mais votada com 1.133 votos, ficando 84 votos atrás do 1° colocado, Reginaldo Faraó, que teve 1217 votos.
Nesta segunda-feira (7), em sua casa no bairro Infraero 2, ela conversou com o portal SelesNafes.com e falou da eleição, da expectativa para o mandato e o que pretende desenvolver à frente do Conselho Tutelar. Regiane Cunha ainda ressaltou que não teve padrinho político, que foi eleita pelo povo e que aguarda também a inauguração do novo prédio do Conselho Tutelar na Zona Norte, que fica próximo ao CEU das Artes. Confira a entrevista:
Por que a senhora acha que foi a única mulher eleita na zona norte de Macapá?
Confesso que me surpreendi porque tinham muitas mulheres competentes na disputa. Bom, acredito que em nossa campanha, que começou em julho, traçamos uma meta com o foco de dialogar com muitas famílias. Nesse processo, me direcionei muito às mulheres pelo encargo que a gente tem de ser mãe e de educar que é uma tarefa muito difícil. Acabei ganhando a confiança dessas mulheres, por necessidade da gente se fortalecer enquanto mulher nesse nosso papel do fortalecimento da família pra se poder atingir de forma mais eficiente crianças e adolescentes. Então, a confiança das pessoas me fez ser eleita para poder defender esses interesses.
Você acha que nesse processo mais mulheres poderiam ter sido eleitas?
Com certeza, inclusive eu já estava nessa expectativa, pelo foco que a gente deseja realizar na zona norte. Fará muita falta, não desmerecendo nossos colegas homens que foram eleitos conselheiros, mas a gente precisava de um conselho tutelar mais feminino com o olhar mais sensível para nossas famílias.
Por que a senhora decidiu se candidatar?
O que me embalou mesmo nessa decisão de ser conselheira foi o fato de ser mãe. Penso que a sociedade que a gente vive é o reflexo real do que a gente é como família, então essa situação da gente ter tantas famílias fragilizadas hoje reflete o que é nossa sociedade. Penso que precisamos fortalecer a base, que é a família, para que a gente possa fazer o enfrentamento nessa realidade tão triste que a gente tem relacionada às nossas crianças e aos nossos adolescentes.
Com sua experiência de vida, que casos lhe chamam mais atenção e que terão um olhar redobrado por você?
Olha, avalio muito a questão das drogas que está crescente, mas além disso a situação que como mãe me preocupa muito é o início de uma vida sexual muito precoce por crianças e adolescentes. Eu acompanho dentro da cidade que a gente vive essa situação que tem crescido e tem sido alarmante o número de pais e mães muito jovens e que estão totalmente despreparados para educar os filhos. Visitei uma casa aqui na zona norte e percebi o consentimento da própria família, dos próprios pais, de garotos de 14 e 15 anos que vivem uma situação amorosa estável na própria casa. Encontrei um garota de 14 anos grávida e outra irmã dela na mesma situação. Casos assim são preocupantes e terão muita atenção.
Como a senhora a avalia hoje a rede de proteção às crianças, do Conselho Tutelar ao Juizado da Infância?
Vejo que a gente ainda tem uma atuação, pelo tamanho da tarefa, muito incipiente, muito inexpressiva. Acredito que o Conselho Tuletar agora mais do que nunca precisa fortalecer essa rede de cuidadores, unindo tanto o Juizado da Infância, Mistério Público, nosso próprio tribunal local, todo mundo no esforço conjunto para fortalecer essa política.
Qual a sua meta?
Nosso objetivo mesmo é fazer um esforço enorme para fazer um investimento principalmente em informação dentro das escolas e nas comunidades. Não vejo uma melhor forma do que fortalecer as famílias, precisamos de pais mais conscientes, então eu penso que o Conselho Tutelar precisa fortalecer esse lado de trabalho preventivo.
Resultado oficial
Conselheiros eleitos / zona norte
Reginaldo Faraó – 1.217 votos
Regiane Cunha – 1.133 votos
Edivan da Força Jovem – 814
Iran Costa – 758 votos
Roberto da Zona Norte – 740 votos
Suplentes
Nicolas – 707 votos
Jéssica Zona Norte- 672 votos
Érica Nunes – 619 votos
Professor Ruan Castro – 609 votos
Rosinha Maciel – 594 votos.
Conselheiros eleitos / zona sul
Fabrício Zona Sul – 1.526
Ed Carlos Oliveira Santos – 1.229 votos
João da Força Jovem – 1.222 votos
Edna – com 1.212 votos
Huelma Medeiros – 1.129 votos
Suplentes
Cris Souza – 993 votos
Mara Oliveira – 912 votos
Diego Santos – 876 votos
Huelton Luiz – 788 votos
Neide KNB – 742 votos.