O Enem que eu não fiz

A coordenação colocou 60 pessoas em um pequeno auditório, sem janelas, três centrais de não funcionavam. Isso ocorreu na Escola Estadual Azevedo Costa, na região Central de Macapá.
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Por Marco Antônio P. Costa

Eu ia fazer o Enem, mas não fiz. Não fiz porque colocaram candidatos que davam para encher duas salas juntas, cerca de 60 pessoas, em um pequeno auditório, sem janelas, com três centrais de ar que não funcionavam. Um ventilador comum, de piso, claramente colocado ali como uma verdadeira gambiarra.

Isso ocorreu na Escola Estadual General Azevedo Costa, no tradicional bairro do Laguinho, onde também resido, na região Central de Macapá.

Vi e vimos, in loco, o que nossas crianças do ensino médio passam todos os dias. No verão amazônico, na Macapá da Linha do Equador, a sensação térmica era similar à de uma sauna.

É importante marcar isso. Não há aqui um exagero, uma hipérbole ou um pleonasmo. A sala comportava duas “turmas” inteiras. Uma moça grávida passou mal.

As outras salas, ao menos tinham janelas. Essa não tinha, foi feita para ter ar condicionado.

Paramos o certame e exigimos a presença da coordenação do exame. A coordenadora estadual do Enem no Amapá foi conversar conosco dentro da sala. Em menos de um único minuto, com o rosto rapidamente umedecido de suor, a mesma atestou: “não há condições!”.

E já não havia mesmo. Passavam das 13:30 – o horário em que a prova começou em todo o Brasil –, e talvez até pudéssemos ter algum tempo de compensação ao final do exame, mas a concentração já tinha ido embora há vários graus Celsius atrás.

Acordamos anotar os nomes de quem não topou fazer a prova. Outros dez candidatos foram realocados em outras salas. Não os critico.

Tanto a coordenação quantos nós, candidatos, iremos recursar a possibilidade (que existe em regimento) de fazer esta primeira prova de humanidades, linguística e redação, em outro momento, outra prova. Isto nos foi 100% garantido, não é uma hipótese. A ver.

No fim das contas, a hipótese menos pior que pareceu para a maioria dos candidatos foi essa: fazer a segunda normalmente no domingo que vem e fazer essa primeira etapa do exame em outra data. Ruim.

Faltou organização, faltou sala extra para “imprevistos” como esse e sobrou frustração para quase cinquenta pessoas.

Agora há pouco, quando vi que o tema da redação foi sobre a democratização do acesso ao cinema no Brasil, um tema que eu teria alguma condição de construir uma peça razoável, fiquei triste.

Mas nada se compara ao pensar que este é o martírio diário de centenas ou milhares de crianças amapaenses. Nada.

Seles Nafes
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