Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Vem das margens do Rio Amazonas, do distrito de Carapanatuba, distante 50 Km da sede de Macapá, a ribeirinha Eliane Costa de Azevedo, de 33 anos. Em 2019, ela está fazendo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela primeira vez.
A história de Eliane é única, mas se confunde com outras tantas histórias de meninas e mulheres de regiões ribeirinhas do Amapá e das ilhas do Pará. Casou-se aos 15 anos e hoje é mãe de 4 filhos.
Eliane conta que sonho de retorno aos estudos foi adiado com terceira gravidez. Agora, chegou o momento de fazer o Enem. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN
Estudar sempre foi o seu sonho e conta que o casamento foi a alternativa encontrada na época para sair de uma condição de vulnerabilidade social, como ocorre com outras garotas amazônidas. Parou de estudar na época do casamento, ainda na quinta série do ensino fundamental.
Quando seu segundo filho já estava um pouco maior, foi a primeira vez que tentou retomar os estudos, mas aí descobriu que estava grávida de gêmeos e os planos tiveram que ser adiados. Hoje os gêmeos já tem 11 anos, enquanto que o filho do meio tem 14 e o mais velho já tem 18.
Eliane pretende tentar o exame até conseguir ingressar no curso de enfermagem. Foto: arquivo pessoal
Foi no seu antigo trabalho, onde cozinhava e limpava a escola de Carapanatuba, que Eliane teve um novo gás para estudar.
“No lado da cozinha tem uma sala e de lá eu escutava os professores perguntando aos alunos e eu ficava me lembrando. Várias vezes eu sabia a resposta, aí eu me decidi, vou me matricular e voltar a estudar. Foi isso, ouvia o professor da cozinha e voltei a estudar. Fiz série por série, lá não tem supletivo e eu não repeti nenhuma vez. Nesse ano me formo no ensino médio e resolvi encarar o Enem”, declarou emocionada, Eliane.
Planos
Eliane está decidida a não parar. Mesmo que a ideia de estudar não seja a que mais agrade o esposo e pai dos seus filhos, os dois entraram em um entendimento. Ela conta que quer fazer enfermagem e que se não der esse anos, vai seguir insistindo.
Atualmente ela cuida de dois idosos, então o cuidar da enfermagem é o que mais lhe encanta e é o que ela se sente vocacionada para fazer.
Ribeirinha está concluindo o ensino médio este ano
Ao chegar em Macapá após quase três horas de viagem em uma pequena embarcação na manhã deste sábado (9), para realizar a segunda prova do ENEM neste domingo (10), Eliane olha para trás e deixa uma mensagem para quem pode estar passando por uma situação similar.
“Casar, ter filhos, é bom. Se divertir, também, mas eu aconselho, o que eu posso falar é que é maravilhoso estudar. Eu não tive as melhores condições, não tive muito diálogo em casa, então tem sido tudo com muito esforço. Nunca deixei que dissessem que já era tarde. Sempre tá em tempo, então, aproveitem. Vamos estudar”, finalizou.