Por RODRIGO ÍNDIO
Um professor usa o talento na cozinha para estimular a honestidade nas pessoas e conseguir recursos para a tão sonhada festa de Natal de crianças, idosos e profissionais da Casa da Hospitalidade, em Santana, a 17 km de Macapá.
Morador do bairro Jardim Felicidade 1, na capital, Osmando Jesus Brasileiro, de 42 anos, é Baiano e chegou no Amapá em 2006. Doutor em Letras, ele é professor da rede pública de ensino e de uma faculdade onde realiza, há cerca de um mês, um projeto solidário feito com cocadas gourmet.
A ideia surgiu a partir do momento em que viu muito coco em seu quintal e não queria que os frutos estragassem. Como já desenvolvia um trabalho de ajuda na Casa da Hospitalidade, decidiu unir o útil ao agradável. Tudo é bem simples, porém, feito com muito amor.
“Eu já fazia cocada e distribuía gratuitamente entre colegas de trabalho e amigos quando veio a ideia de vender, mas não para conseguir renda para mim, e sim para ajudar essa instituição”, explicou.
Como não tem tempo para vender as iguarias, a forma encontrada foi produzi-las e deixá-las dentro de uma espécie de bandeja nas entradas das instituições onde trabalha.
Ao lado das cocadas são fixados dois cartazes com as seguintes frases: “Cocada Baiana Gourmet, apenas R$ 1, pode deixar o dinheiro aí, pegue o troco se precisar” e “A renda será utilizada numa confraternização de Natal para crianças e idosos da casa da hospitalidade em Santana”.
Mesmo sendo uma ideia inovadora, o professor lembra que muitos desacreditaram por não confiar na honestidade das pessoas, já que ninguém fica reparando os produtos ou a renda da venda.
“Falavam: ‘ah vão te roubar’. Eu dizia: ‘e daí? Quem liga? Pouca coisa, mas vou tentar’. Lá eu deixei. Para minha surpresa e para a surpresa de todos nunca roubaram uma cocada, sempre tá lá tudo direitinho e acho que eles se sentem felizes em fazer isso”, orgulhou-se.
Uma das pessoas que acreditaram na ideia foi a acadêmica Ruane Sá que todos os dias faz questão de garantir sua cocada. A jovem opina que todos deveriam apoiar e se inspirar na iniciativa.
“É algo incrível, não acham? Um preço acessível por um produto super saboroso e que vai ajudar a resgatar sorrisos no Natal. Muitos deveriam seguir esse exemplo e buscar alternativas para ajudar quem precisa, pode ser com um abraço ou simplesmente comprando uma cocada”, opinou.
O professor Osmando enfatiza que a diferença das vendas na escola pública é que, às vezes, os alunos não têm como pagar a cocada mas querem comer. Ao invés de furtar, pedem para o professor para pagar depois e ele não coloca nenhum impedimento.
“É lá na escola Maria Cavalcante, no Brasil Novo. No outro dia eles chegam lá e dizem: ‘tome aqui professor o dinheiro da cocada que peguei’. O objetivo não é enriquecer e sim estimular a honestidade e fazer um ato nobre”, ponderou.
Pelo menos três vezes por semana o professor vai em seu quintal, apanha os cocos e prepara três panelões de cocadas que rendem 80 unidades em cada um. Ele fala o que espera com a divulgação.
“Não quero nada pra mim. Se puderem, vão na Casa da Hospitalidade e faça sua contribuição para a festa que será no dia 23 de dezembro. Se quiser adquirir as cocadas basta ir na escola do Brasil Novo à tarde, ou na faculdade da Lagoa dos Índios pela noite, já ajudará bastante aqueles que mais precisam”, finalizou, sorridente, o educador.