Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Todos os dias, às 17h30, quase pontualmente, o barulho dos motores invade as casas distribuídas pelas pontes de madeira. São os geradores de energia, que ficarão ligados até às 23 horas. Ter apenas cinco horas e meia de energia por dia, é apenas uma das dificuldades da comunidade do Sucuriju, distrito do município de Amapá.
Localizada no extremo leste do Estado, a comunidade de aproximadamente 500 moradores tem a mesma dificuldade com água potável desde a sua fundação, que remonta à década de 1950.
A localização geográfica do distrito ribeirinho não permite que a água, salobra e muito barrenta, seja captada para o consumo humano diretamente da beira do rio. Sem o Marajó – uma barreira para o mar – a influência do Oceano Atlântico é muito forte nessa posição extrema do Estado. Não é à toa que o local é conhecido por vários fenômenos, como pororocas.
Então, a água vem da chuva armazenada em duas grandes cisternas. Agora, uma das cisternas está rachada e a água que já não dura o ano inteiro, em 2019 durou menos ainda. Sempre o Sucuriju tem que ser alvo de missões do governo do Estado e da prefeitura de Amapá.
No dia 13 de dezembro, uma balsa com 120 mil litros de água chegou até a comunidade. Antes, outros dois carregamentos de 100 mil litros já tinham sido enviados. Com o início do inverno amazônico, a situação tende a melhorar.
Fartura e tranquilidade
Se há dificuldades, há também muitas vantagens na exótica comunidade. O Sucuriju é conhecido por ser o local do caranguejo graúdo, da gurijuba e do pirarucu, que existem em fartura nos lagos do Amapá.
Segundo Adiel Amoras Maciel, de 35 anos, que é pescador e também representa a prefeitura de Amapá, na comunidade 99% das pessoas vivem da pesca e o local ainda pode desfrutar de muita tranquilidade.
“Para se viver é muito bom. Temos uma saúde muito limpa, comida boa, né? Para morrer alguém no ano, é a coisa mais difícil. Violência também é muito raro, a comunidade tem um bar e todo mundo vive em paz. Hoje, com a internet, o motor vai ligando e todo mundo vai pegando o celular, lá pega um sinal”, contou Adiel.
Quando o tema é deslocamento, as coisas se complicam. Do Sucuriju para a capital, Macapá, são cerca de 20 horas de viagem de barco, pela costa do Rio Amazonas. Para a sede do município de Amapá, a viagem pode durar até 17 horas.
Em algum tempo, já houve pista para pouso de pequenos aviões na localidade, mas hoje a mesma já não existe. Quando há alguma urgência ou operação de saúde, geralmente o acesso é feito via helicóptero.
Sem os dados oficiais de analfabetismo, Adiel conta que é comum não saber ler, especialmente entre os mais velhos. E é a educação, mais que os problemas da água ou energia elétrica, que faz com que as pessoas saiam do local.
Só há educação até o ensino fundamental, então muitas família se mudam quando os filhos tem que cursar o ensino médio, geralmente para a sede do município, mas também alguns para Macapá. Talvez isto explique, também, porque a comunidade vem diminuindo.
Melhorar a questão da água, pensar em projetos de energia solar ou outras alternativas energéticas, implantar o ensino médio na comunidade são os desafios do passado e ainda do presente no Distrito do Sucuriju. Mas, como diz o pescador e filho de pescador Adiel: “Para mim, para se viver, ainda é o melhor lugar”.