Crônica por JÚLIO MIRAGAIA
e WALDIR BITTENCOURT*
Vir dos céus a ajuda a uma comunidade de difícil acesso, no interior da floresta amazônica, poderia ser a premissa para uma obra de ficção. Porém, na vida real, no extremo norte do Amapá, a efetivação do direito à saúde ocorre a partir de fato semelhante, durante a 26ª edição da “Operação Gota”.
Durante dois dias na última semana, acompanhamos a força-tarefa, que é formada por profissionais de saúde e Força Aérea Brasileira (FAB). O esforço tem o objetivo de levar diversas vacinas a comunidades rurais, ribeirinhas e indígenas.
Em um helicóptero Black Hawk, enfermeiros, militares e jornalistas se deslocaram da sede do município de Oiapoque, a 590 km de Macapá, para iniciar a campanha em duas localidades: Vila Brasil e Vila Velha do Cassiporé.
A chuva forte que chegou com o mês de dezembro tornou na última terça-feira (10) o espaço aéreo na região intrafegável e suspendeu em um dia o começo da operação. Mas, na quarta-feira (11), foi possível deixar o primeiro grupo de vacinadores em Vila Velha do Cassiporé.
Vila Brasil
Participamos do segundo grupo, deixado no mesmo dia pelos militares na Vila Brasil. A comunidade fica no limite com a Guiana Francesa e o Rio Oiapoque é o que a separa da aldeia indígena Camopi, território pertencente à França.
Vila Brasil é basicamente formada por comerciantes, dentro do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, que tem como principal público consumidor a população da Guiana. Tanto que os produtos na localidade são vendidos em euro e não em real.
Energia elétrica em Vila Brasil, somente após as 18h, quando é ligado um gerador. Outra dificuldade é a internet. Para ter acesso a um sinal precário, é preciso comprar um cartão de recarga de, no mínimo, 5 euros.
O lugar é um encontro étnico onde indígenas, convivem com europeus, ao mesmo tempo de que com nordestinos, na corrida pela sobrevivência. Há também ali lugar para generosidade. A dona da pousada onde a equipe ficou hospedada não apenas não cobrou as diárias, mas deu moedinhas de euro para guardarmos de recordação.
Curiosidades a parte, a exuberância da paisagem de mata e rio mostra o potencial para o ecoturismo.
Imunização
Entre adultos, crianças e idosos, atualizaram a caderneta de vacinação cerca de 100 pessoas na primeira etapa da Operação Gota, nas duas localidades.
Pessoas como a dona de casa Marcione Gonçalves Costa, de 33 anos, não têm dúvidas da importância da operação. Assim que a equipe montou o posto, na frente de um estabelecimento comercial, ela veio com os dois filhos e familiares verificar a situação de suas cadernetas de vacinação.
Aos poucos, após a mobilização dos agentes de saúde pela vila, foi se formando no local, em frente ao Rio Oiapoque, uma fila de pessoas de diferentes idades para serem atendidas.
Ainda esta semana, a força-tarefa já chegou também a comunidades do município de Amapá e aldeias indígenas próximas ao município de Pedra Branca do Amapari. Até o dia 21 de dezembro, a expectativa é de imunizar cerca de 1,2 mil pessoas.
Quem participa
Quem comanda pela FAB a operação no Amapá é o tenente Fabian. Em Oiapoque, o trabalho de vacinação foi desenvolvido pelos profissionais em saúde da prefeitura.
Pelo Estado, a ação é coordenada pela Superintendência de Vigilância em Saúde, através de sua unidade de imunobiológicos.
A equipe de vacinadores da prefeitura de Oiapoque que participou dessa etapa da operação foi composta pelos seguintes profissionais: Karolainy Aguiar, Maria Justina, Péricles, Suyanne Mota, Jairo Macel, Elane Oliveira e Anderson Fiel.
*Waldir Bittencourt é enfermeiro e servidor da Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá (SVS)