Da REDAÇÃO
Um passageiro da embarcação que tinha como destino o município de Santana, e que ficou à deriva por quase 3 dias, contou com exclusividade ao Portal SelesNafes.com os momentos de desespero vividos no último fim de semana, e que só terminaram com a chegada da embarcação nesta terça-feira (3), no Porto de Santana.
O aposentado Juracir Souza recordou que a embarcação saiu de Belém no sábado (30), com mais de uma hora de atraso. Ao todo, estavam a bordo cerca de 300 pessoas, segundo ele. Juracir relata que a explosão do motor, por volta de 5h30, próximo da cidade de Breves-PA, deu início a situação de pânico na embarcação, que tinha muitas crianças e idosos.
“Foi um desespero, e o pessoal querendo pular. Só tinha um extintor de incêndio. Aí, o cara [funcionário da empresa] conseguiu apagar e empurraram o navio para o meio do mato. Tinha um senhor com problema de coração, ele passou mal e quase morre dentro do barco”, disse o passageiro.
Juracir Souza lembrou também que, ao conseguir aproximar o navio da região de mato, muitos carapanãs, mosquitos e abelhas invadiram o barco. Somente quando o sol nasceu, a situação melhorou.
Sem explicações e passageiros deixados à deriva
Os passageiros então teriam procurado os funcionários do navio, que se recusavam a dar satisfação sobre o problema. A tensão só diminuiu depois que um dos integrantes da tripulação informou que chegaria uma peça nova para consertar o barco em no máximo 6h.
Por volta de 17h, uma voadeira se aproximou do navio com a peça, mas quando foi posta o motor falhou novamente.
“O dono do barco pegou a voadeira e sumiu, estava todo mundo nervoso. Foi um corre corre. Ele deixou todo mundo lá à noite”, recordou o aposentado.
Medo e risco de afundar
Já no amanhecer do domingo (1), um barco de madeira chegou para puxar o navio, porém, a medida em que a embarcação era puxada, havia choque com o barco que tentava ajudar.
“Foi uma agonia, todo mundo vestindo colete. Por causa da maresia, ele [o barco de madeira] subia em cima do Ana Beatriz [navio]. Aí ajeitaram, colocando um pneu”, contou Juracir Souza.
Ao chegar próximo a uma baía, as embarcações tiveram que parar e esperar por uma balsa que carrega passageiros em Breves e que puxou a ambas. Segundo um dos tripulantes, havia o risco do barco com passageiros afundar.
Entretanto, ao começar o transporte, a balsa passou a fazer os mesmos movimentos que o barco de madeira, se chocando com o navio Ana Beatriz.
“Foi um desespero. O cara conseguiu soltar. Apareceram dois caras em duas voadeiras, um dirigia e puxava a corda. Só depois de muito trabalho chegamos em Santana”, disse o aposentado indignado.
Alimentação
Juracir Souza lembrou ainda de outro problema ocorrido na viagem: a comida, que ele qualificou como uma “nojeira”, servida aos passageiros.
“O cara no domingo pegou tudo que é imundície. Já era pra ter dado comida aos passageiros por conta do navio. Mas era aquela sopa, uma nojeira. Aí, o pessoal botou pra quebrar e esse cara passou pro outro barco”, disse Souza.
O idoso finalizou desabafando sobre o trauma vivido na viagem que ele sempre costuma fazer de navio.
“Tenho 66 anos, vou fazer 67. Eu nunca passei por uma humilhação como essa na minha vida”, concluiu.