Por falta de ambulância, médica sugere que paciente seja levado ao HE em Uber

Coordenação do serviço declarou que profissional de saúde não agiu de má fé. Em áudio, a médica fala em questão de solidariedade por não haver veículo para o atendimento
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Quando Robson Nunes, de 44 anos, ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), e ao ser informado que não havia ambulância disponível para o atendimento, ele relata que foi orientado por uma médica a chamar um Uber para levar o paciente ao Hospital de Emergências de Macapá (HE).

O fato ocorreu na manhã do último sábado (30) e indignou o jovem que, na própria ligação, demonstrou descontentamento.

Por volta das 07h da manhã do sábado, Robson, que é trabalhador da área da saúde, encontrou um homem ensanguentado em frente à casa da sua irmã, no bairro Jesus de Nazaré, região central de Macapá. O homem ferido estava consciente e afirmava ter levado quatro facadas da sua esposa enquanto dormia.

Homem esfaqueado foi encontrado em rua do bairro Jesus de Nazaré. Foto: enviada por Robson Nunes

Robson recordou que primeiro ligou para o Corpo de Bombeiros Militar (CBM), que informou que não tinha viaturas disponíveis, pois as que tinham estavam ocupadas ou em manutenção.

Ele afirmou ao atendimento dos bombeiros que iria formalizar uma reclamação. Após isso, começaram as ligações para o Samu, que foram quatro.

O telefone de Robson é programado para gravar todas as ligações, e foi na terceira delas que, após alguns pedidos de informação sobre o paciente, a ligação foi repassada para uma médica.

A 1 minuto e 39 segundos da ligação, começou o diálogo com a médica.

“- Alô, médica do SAMU, pois não?”

“- Alô, bom dia. É um rapaz que foi furado aqui no Jesus de Nazaré pela sua companheira e eu tô solicitando uma viatura.”

“- Acontece que nossa viatura, já foi explicado praí, está em ocorrência.”

“- Ela tá em ocorrência?”

“- Ela tá em ocorrência e eu pedi que ele fosse ao pronto socorro o mais rápido possível”.

“- Mas pior que ele não tem ninguém, nem conhecidos aqui, ele veio de uma rua pra outra, ele conseguiu fugir da casa dele”.

“- Pois é, nossa ambulância no momento está (inaudível) se vocês tiverem como leva-lo, pedir um Uber para ele ir, tá?”

“- Só tem uma viatura o Samu, é?”

“- Sim, para a zona sul, é. E ela está em ocorrência no momento, assim que (inaudível), posso mandar”

“- Tudo bem, vou informar eles aqui e a PM que também já deve ter ligado também pra (inaudível), que só tem uma viatura”

“- É. Se você quiser ajudar mais, só pedir um Uber e ele vai até o pronto socorro”

“- Não entendi.”

“- Se o senhor quiser ajudar mais ele peça um Uber, qualquer coisa, para deixa-lo lá no HE”.

“- Aí é brincadeira, você pedir pra gente pegar um Uber”.

“- Não, senhor, é solidariedade o nome disso (…)”

Ouça o áudio completo aqui.

Robson Nunes afirmou que não foi verificado com o devido rigor o estado de saúde do paciente.

“Os atendentes deveriam procurar saber mais, o estado de saúde desse cidadão, fazer não uma entrevista, a gente chama de pontos de referência, qual o tipo de lesão que o cidadão tem, qual foi o tipo de situação, se foi arma de fogo, arma branca que foi feito o ferimento, a região que foi atingida, a ocasião de sangramento (…) dar mais atenção ao cidadão”, finalizou, Robson Nunes.

Algum tempo depois da conversa com a médica, o Corpo de Bombeiros enviou uma viatura que fez o deslocamento do paciente. O homem de nome prenome Welinton, de 42 anos, foi atendido e não corre risco de vida.

Coordenação do Samu avalia não ter havido má fé na declaração da médica

O que diz o Samu?

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) esclareceu que não faz parte do seu protocolo de atendimento orientar as pessoas a conseguirem carona ou acionar aplicativos de transporte de passageiros.

Também esclareceu que, após a primeira conversa, feita por um funcionário atendente, a ligação é repassada para um profissional médico e o mesmo avalia se é uma ocasião básica ou intensiva.

No caso, a médica já havia avaliado nas outras ligações se tratar de um atendimento básico e, como a Prefeitura Municipal de Macapá só disponibiliza uma ambulância básica para a zona sul e a mesma estava ocupada, não havia o que fazer.

A reportagem não conseguiu contato com a médica que realizou o atendimento.

Por fim, a coordenação administrativa do serviço, não entende ter havido má fé da profissional médica envolvida no atendimento.

PMM

A Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) esclareceu que existem duas ambulâncias de atendimentos básicos para a Zona de Sul de Macapá, mas, no momento da ocorrência só havia uma equipe de atendimentos.

Seles Nafes
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