Por RENIVALDO COSTA
Em 1989, há 30 anos, o mundo passava por grandes mudanças. Na Europa caía o Muro de Berlim, que durante décadas dividiu as duas Alemanhas. No Brasil, Sarney preparava-se para sair do governo e vencia as eleições presidenciais um político alagoano chamado Fernando Collor.
Na Amazônia, surgia uma música diferente. No Pará, Nilson Chaves, Vital Lima e outros músicos difundiam suas letras e rimas, compostas sob o olhar atento do homem que quer a metrópole, mas não ignora o ribeirinho.
No meio dessas mudanças, evidencia-se a poesia de dois jovens músicos. Poesia porque faziam muito mais do que letras e rimas. Grande, aliás, é a resistência em aceitar a letra de música como poesia. Alguns críticos já traçaram listas de fatores que manifestam a diferença entre essas duas artes.
E, embora, Manuel Bandeira já tenha dito “que por maiores que sejam as afinidades entre duas artes, sempre as separa uma espécie de abismo”, recorremos à tradição e à história da poesia, que é marcada e acompanhada pela música.
O mesmo Manuel Bandeira também disse “que a poesia está em tudo –tanto nos amores como nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas”.
E o poeta Osmar Júnior se embebeu dessa ideia e encontrou a poesia em fatos corriqueiros, em coisas banais, em encontros e desencontros, e procurou levar para a música regional as inquietações do cotidiano dos jovens, os dramas de uma época pós-ditadura, as alegrias, dores e conflitos, conciliando o pessoal com os acontecimentos da época.
Como intérprete de seus manifestos, Osmar Júnior elegeu Amadeu Cavalcante, músico que já se destacava na noite amapaense. Surgia então, o “Sentinela Nortente”, o compacto que representou o grande suspiro da música regional.
Sob a influência dos ritmos caribenhos, da salsa, do merengue, e também do brega e da toada, Osmar Júnior compôs clássicos do cancioneiro regional, como “Coração tropical”, “Tajá” e a própria música tema do disco. “Sentinela Nortente” foi o primeiro registro fonográfico do Movimento Costa Norte, que se desenhava naquele momento. Foi tão importante que motivou outros artistas, como Zé Miguel e Val Milhomem, a também lançarem seus LPs.
O disco é, em termos históricos, sociológicos, estéticos, filosóficos, um repositório do universo sociocultural que Osmar Junior tão brilhantemente captou e Amadeu Cavalcante soube interpretar com maestria.