Por ANDREZA SANCHES
“Você não é capaz” é uma frase que não está no vocabulário, nem no dia a dia do jovem Lucas Eduardo. Diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 12 anos e com altas habilidades, o adolescente, hoje com 17 anos, é o mais novo calouro da Universidade Federal do Amapá (Unifap). Aprovado nos cursos de jornalismo e letras, Lucas já escolheu o que vai cursar e está ansioso para a nova jornada no ensino superior.
Lucas Eduardo Conceição da Silva nasceu no município de Santana, distante 17 quilômetros de Macapá, cursou a educação infantil no Centro Vitória Régia, área central da cidade e estudou até a 4ª série do ensino fundamental na Escola Estadual São João, no bairro Nova Brasília. Ainda pequeno, Lucas se destacava pelo interesse na leitura, gostava de brincar de sala de aula e até passava exercícios para o próprio pai, como se fosse seu professor. Iraci da Silva, mãe de Lucas, conta que em 2016 na Casa da Esperança, em Fortaleza (CE), Lucas foi diagnosticado com TEA, mas o menino desde criança já mostrava que era muito especial.
Da infância à adolescência, ele continuou se destacando pela inteligência. Em 2013, Lucas tirou o primeiro lugar no concurso de poesia da sala de leitura da escola Santina Rioli. No entanto, com o passar dos anos, as dificuldades foram aumentando, sobretudo o preconceito. Lucas Eduardo era um aluno muito isolado, tinha dificuldades para interagir e sofria com a rejeição dos colegas na escola.
“Chegou um momento em que ele disse que não queria mais estudar, porque os colegas não falavam com ele. Na época, eu pedi auxilio de psicólogo e dos professores, para conversarem com os alunos e pedissem que eles se aproximassem de Lucas, mesmo assim, ele continuava isolado e não via a hora de terminar o ano letivo, pois se sentia muito sozinho. Nossa maior dificuldade sempre foi a socialização”, conta a mãe de Lucas.
Hoje, Lucas consegue fazer muitas coisas sozinho e fora de casa, uma independência que é comemorada pela família.
“As dificuldades sempre foram muito grandes, de interação e convivência. Na educação básica, ele teve professores guerreiros, que mesmo com a falta de estrutura escolar, acompanhamento e com o bullying, souberam lidar e ensinar meu irmão. É uma batalha diária que a família enfrenta, mas que vencemos todos os dias, vendo a superação, autonomia e avanços do Lucas”, comentou Marcos da Silva, irmão de Lucas.
Mesmo nervoso, Lucas não vê o momento de sentar no banco da universidade na segunda quinzena de fevereiro e enfrentar mais um desafio.
“Escolhi letras, porque sou apaixonado por língua portuguesa, estrangeira, gramática, tenho vontade de viajar o mundo, conhecer os Estados Unidos, Inglaterra e quero muito ser professor de inglês e dar aula para jovens. Estou nervoso eu sei estudar na universidade, não é o mesmo que estudar na escola, é muito puxado, tem que ler, trabalhos para fazer, então estou nervoso”, diz Lucas, que também cursa o 7º semestre do curso de inglês.