Covid-19: com medo do contágio e fome, moradores de rua aguardam providências em Macapá

“Tiraram o povo da ruas por conta da doença, e nós que moramos nela como ficamos? Vamos sumir do nada ou morrer com o vírus?”, questiona Michel Lima.
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Por RODRIGO ÍNDIO

A rua, o espaço onde a vida social acontece e que passou a ser evitado por todos é o lar de centenas de pessoas na capital do Amapá. Ao abandono, soma-se agora um inimigo invisível, a pandemia do novo coronavírus. É grande o risco de muitos serem infectados.

Uma delas é Michel Francisco de Lima, de 38 anos, que veio da cidade de Altamira (PA) em busca de emprego e há mais de 10 anos mora nas ruas de Macapá.

Ao abandono, soma-se agora um inimigo invisível, a pandemia do novo coronavírus. É grande o risco de muitos serem infectados

Em época de pandemia e sem ter para onde ir, ele diz fazer parte de um grupo que está na linha de frente à mercê do novo coronavírus, com risco iminente de ser “varrido” pela doença.

“Aqui trabalho como flanelinha e fazendo pequenos reparos em carros. Agora não estou faturando nenhum real, mal tenho o que comer. Durmo em praças e na frente do HE [Hospital de Emergência de Macapá]. Tiraram o povo da ruas por conta da doença, e nós que moramos nela como ficamos? Vamos sumir do nada ou morrer com o vírus?”, questionou.

Michel: “Agora não estou faturando nenhum real, mal tenho o que comer. Durmo em praças e na frente do HE”. Fotos: Rodrigo Índio/SN

Como aguarda uma cirurgia vascular há anos, ele diz estar desacreditado de que possa receber apoio do poder público para se prevenir contra o Covid-19. Ainda assim, não perde a fé. Neste momento de crise, diz que se sente só.

“Ninguém olha por nós, ninguém pensa em nós, acho que deve ser porque não faremos falta pra ninguém, mas também somos gente e precisamos de cuidados. Dói muito ser esquecido, duvido muito que lembrem da gente, enquanto uns tem o conforto do lar, nós não, mas Deus sabe o que faz”, desabafou o rapaz que descansava em um banco da Praça da Bandeira, a poucos metros das sedes centrais do governo estadual e administração municipal.

Quem também está lançado à própria sorte é André da Conceição, de 42 anos. Ele montou uma barraca improvisada na praça Veiga Cabral, no centro da capital. Atualmente para levantar renda ele apanha mangas em árvores espalhadas pela cidade. Diz que o que mais dói nesse momento é a falta de apoio e a fome.

André da Conceição: “Sinceramente, não sei o que será de nós”

“Somos muito rejeitados, a própria segurança vem aqui para nos expulsar. Entendo que estão fazendo o trabalho deles, mas se sairmos daqui vamos pra onde? Agora como não temos como faturar nada estou passando fome. Uma vez ou outra vem uma boa alma deixar uma comidinha. Sinceramente, não sei o que será de nós. Medo eu tenho, mas o que posso fazer?”, enfatizou o morador de rua.

Outros flagrantes de pessoas dormindo em calçadas ou em locais públicos foram feitos pelo portal SelesNafes.com em diversos pontos da área Central de Macapá.

Em época de pandemia e sem ter para onde ir, moradores de rua fazem parte de um grupo que está à mercê do novo coronavírus

Questionados pela população sobre essa situação em uma live, feita no último final de semana, o prefeito de Macapá Clécio Luís (REDE) e o governador Waldez Góes (PDT), anunciaram que medidas devem ser tomadas e anunciadas nos próximos dias. Enquanto isso, a população das ruas só pede apoio humanitário.

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