Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Aos 65 anos de idade e mais de 50 de carreira, Manoel Cordeiro acaba de ser escolhido por um site especializado de crítica musical como um dos melhores instrumentistas brasileiros do ano de 2019.
A menção coroa uma carreira com a impressionante marca na participação de quase mil discos em que a digital e as melodias do coração de Manoel Cordeiro deixaram sua marca. Talvez por isso, conta, que o cantor e produtor paraense Alípio Martins, começou a chamar-lhe de “maestro”.
Marajoara de nascimento, amapaense de criação e primeira juventude, e belenense de maturidade, o maestro Manoel Cordeiro lançou em 2019 o disco “Guitar Hero Brasil”, uma mistura de ritmos nortistas que contam um pouco da sua autobiografia.
“Estou muito feliz, fui indicado como um dos 23 melhores instrumentistas da MPB e muito mais feliz por estar na companhia de Hamilton de Holanda, Mayara Morais, a filha do Martinho, do Lúcio Maia, guitarrista do Nação Zumbi, então eu tenho a sensação de ter galgado um degrau do regional para o nacional”, declarou Manoel Cordeiro sobre a lista do site www.musicabrasileira.com.br.
O Amapá
Ao Amapá ele deve sua iniciação musical. Conta que tocou pela primeira vez, aos 12 anos, em programa da Rádio Educadora São José de Macapá, no programa “Minha Gente”, apresentado pela Irmã Teresa, do antigo Ginásio Feminino – hoje escola estadual Irmã Santina Rioli.
Os batuques e o Marabaixo habitam a sua música, tanto que o seu disco tem uma faixa intitulada “Curiaú”.
“A música do Amapá está entranhada em mim. Marabaixo, batuque, eu ia para as festas do Divino Espírito Santo. A Música Popular Amapaense, ela tem uma cara própria, um jeito de ser muito legal”, contou Cordeiro.
No álbum de 40 anos de carreira da cantora Fafá de Belém, produzido pelo Maestro, ele inseriu a faixa “Os Passa Vida”, dos artistas amapaenses Osmar Júnior e Rambolde Campos. Música fala das mangueiras que vigiam a cidade de Macapá e que, certamente, também vigiam e por isso a canção fez tanto sucesso em Belém do Pará.
A música paraense no cenário nacional
Analisando o atual momento da música paraense, que tem uma crescente visibilidade no cenário nacional, o mestre da guitarrada palpita que o diferencial ocorreu com a aposta na mistura. “Tropicalisticamente”, explica a sua visão desse processo:
“É uma posição pessoal minha, acho que tem muito a ver com o projeto Terroá Pará, esse projeto colocou junto, no mesmo palco e em igualdade de condições excelentes de se mostrarem, a música da floresta. O Trio Manari, a música clássica do Sebastião Tapajós, aquela música mais brejeira e visceral da Dona Onete, depois veio mais pro meio, o brega mais moderado, depois o pop tropical, com o Felipe [Cordeiro, músico, produtor e filho], a Luê, a própria Gaby Amarantos, depois aquela coisa mais punk das músicas rave, da Gang do Eletro. Então eu acho que esse foi o segredo. Colocar todas as vertentes tudo junto, elas se complementam” afirmou o Maestro.
Um nível parecido ele almeja para a música do Amapá e por aqui tem tocado alguns projetos. Para os próximos dias, planeja apresentações e ensaios abertos, com a nova e velha safra dos músicos tucujus, com quem cultiva parcerias e amizades.
Atualmente dividido entre São Paulo e o Amapá, onde a esposa ainda mora, Manoel Cordeiro demonstra ter o entusiasmo e a animação de um músico que acaba de montar sua primeira banda de garagem. O mestre da guitarrada, defensor dos batuques, tropicalista do Marajó, parece avisar: “apenas começamos!”.
Foto de capa: Divulgação/José de Holanda