“Não vendo nada”, diz ambulante de 80 anos que se arrisca por renda

Angustiados com a situação, vendedores ambulantes e profissionais autônomos de Macapá se perguntam como irão pagar as contas com a perda da clientela.
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Por RODRIGO ÍNDIO

A restrição da circulação de pessoas nas ruas para conter a ameaça do novo coronavírus (Covid-19) no Amapá já fez o comércio baixar as portas e também preocupa os trabalhadores informais, que não têm carteira assinada.

Angustiados com a situação, vendedores ambulantes e profissionais autônomos se perguntam como irão pagar as contas com a perda da clientela.

Margareth Mira Moraes, de 80 anos, há mais de 30 anos vende cafezinho nas proximidades da feira do bairro Perpétuo Socorro, zona leste de Macapá.

Margareth Mira Moraes, de 80 anos, há mais de 30 anos vende cafezinho nas proximidades da feira do bairro Perpétuo Socorro. Fotos: Rodrigo Índio/SN

Na sua casa moram pelo menos 10 pessoas que estão sem poder trabalhar por determinação do decreto estadual nº 1415 – que restringe horários e funcionamentos de atividades econômicas, públicas e religiosas. Mesmo com a proibição, a idosa que pertence ao grupo de risco, pula da cama às 4h da manhã para tentar a sorte.

“Pra mim tá ruim demais. Não vendo nada, fico aqui no sol esperando cliente, mas não tem. Preciso vir porque tenho que comer. Esse meu dinheirinho daqui é pra mim e meus netinhos, os pais deles estão parados porque não podem sair pra trabalhar, eu venho porque parte da minha vida é aqui, tenho fé que tudo isso de ruim vai passar”, esperançou-se a idosa, que não é aposentada.

Trabalhadores informais continuam tentando vender seus produtos em Macapá

Com os boletos de contas chegando e outros vencendo, e sem celular para tentar anunciar o serviço, ela fez um pedido especial.

“Sei que ninguém tá saindo de casa, mas se passar aqui pela orla perto dos barcos, pare comigo, compre um café com pão e vamos bater um bom papo. Sempre estarei por aqui”, convidou.

Venda de marmitas ajudam a manter famílias de trabalhadores informais

Já para Edinaldo de Souza Miranda, de 50 anos, a única renda que sustentava sua família era a venda de churrasquinhos no conjunto Mucajá, no bairro Beirol, e a entrega de marmitex para trabalhadores do Centro Comercial.

Com clientela fiel, faturava o suficiente para arcar com suas contas e despesas. Porém, o cenário agora é outro. Na manhã deste sábado (28), ele tentava a sorte na Rampa do Açaí, no bairro Santa Inês, zona sul de Macapá.

Edinaldo de Souza Miranda: “temos que nos virar”

“Tá ruim demais. No Mucajá, onde eu vendia uma caixa de frango com meu churrasquinho por dia, agora não vendemos nada porque estamos proibidos pelos governantes que todo final de mês tem seu salário na conta, nós não, temos que nos virar”, detalhou.

A alternativa encontrada por ele foi sair andando pelas ruas se arriscando ser pego pela fiscalização, ou até mesmo, pelo vírus. O trabalhador desabafa.

“Nos proíbem, mas precisamos vender para sobreviver. Quando sobra muito preciso jogar fora, porque no final do dia não presta mais. Meu público que comprava não está indo trabalhar. Poderiam deixar a gente trabalhar e ter o que comer e vestir, é pedir muito?”, questionou.

Alacide de Oliveira Melo, de 53 anos, trabalha na Orla do Santa Inês com a venda de lanches desde 1992. Hoje, ele ainda acorda às 3h30 para vender, mas confessa que se esconde da fiscalização.

Alacide de Oliveira Melo: “Tenho medo mas a necessidade fala mais alto”

“Estou dando um jeitinho de trabalhar, mesmo que escondido para não ser preso. Como não tá dando para trabalhar no meu local fixo vou me ajeitando como posso, afinal tenho esposa e filhos. Tenho medo mas a necessidade fala mais alto. Já trabalhando não tá fácil a situação, imagine se eu parar”, desabafou.

O governo do Amapá e a prefeitura de Macapá anunciaram que estudam medidas para auxiliar esse público.

Seles Nafes
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