Naufrágio: Defensora que acompanhou buscas viveu emoções e reavaliou conceitos

Defensora pública Tayná Medeiros ficou 3 dias no local, ajudou uma moça a localizar o corpo da mãe e viveu vários momentos de emoção
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

A defensora pública do Amapá Tayná Medeiros, de 27 anos, acompanhou as buscas pelos corpos das vítimas do naufrágio do barco Anna Karoline III. Para ela, que passou vários dias com as famílias e sobreviventes no local do acidente, foram momentos emoção, sofrimento e reavaliação de conceitos particulares.

Tayná foi designada pela DPE. Por três dias, ela teve a experiência de ficar e atender os familiares que aguardavam as operações com expectativa e angústia. Tirou dúvidas simples, como por exemplo quem ficaria com a guarda de uma criança que perdeu a mãe, e viveu momentos de emoção sempre que um familiar reencontrava o corpo de um ente querido.

A defensora chegou na quarta-feira (04), quatro dias após o naufrágio, e retornou para Macapá no dia último dia 07. Tayná lembrou que dezenas de pessoas estavam divididas em três embarcações acompanhando as buscas.

Quando os mergulhadores desciam, recordou, geralmente dois ou quatro, a expectativa aumentava entre os parentes que aguardavam os corpos emergirem.

Em uma das vezes, uma moça lhe contou que a mãe desaparecida estava com uma calça roxa. Tayná estava observando com um binóculo quando viu o corpo de uma pessoa com uma calça da mesma cor.

“Quando eu vi que essa tinha a calça roxa, eu emprestei meu binóculo para essa mulher e ela viu que era a mãe dela. Ela começou a chorar, ficou muito feliz, agradeceu a Deus porque tinha achado a mãe dela”, contou Tayná.

Parentes e sobreviventes no local acompanham as buscas por corpos. Foto: Max Renê

Direito ao sepultamento

Além desse caso, a defensora viu outros. Com a decomposição dos corpos, o reconhecimento dos parentes se dava muito mais pelas roupas. Tayná disse que sempre reconheceu a importância no direito ao sepultamento, mas que essa experiência lhe fez compreender muito mais a magnitude deste ritual.

“Essa experiência me fez ressignificar vários direitos fundamentais, sobretudo o direito ao sepultamento”, avaliou.

Ações da Defensoria

A Defensoria Pública está à disposição para parentes de vítimas que estejam com dificuldades de resolver problemas cartoriais, na identificação dos corpos, na Polícia Técnico-Científica, problemas de documentação e qualquer outro entrave burocrático.

Além disso, a DPE irá preparar uma ação coletiva visando ressarcimento e indenização para as vítimas.

“Estamos procurando o maior número de responsáveis por esse naufrágio. O que tivemos conhecimento até agora é que a pessoa que estava administrando o barco naquela noite não é era o dono. Quem aluga é responsável, mas também o dono do barco tem responsabilidade”.

Tayná Medeiros: conceito de direitos fundamentais reavaliados. Foto: Marco Antônio P. Costa

Perguntada sobre possíveis erros na fiscalização por parte da Capitania dos Portos, a defensora esclareceu que por se tratar da Marinha do Brasil, um órgão da União, o caso ficará para a Defensoria Pública da União.

Sobre prisões e responsabilização penal dos responsáveis pelo naufrágio, o Ministério Público é quem tem essa atribuição.

A defensoria constituiu um grupo de apoio emergencial às vítimas do naufrágio que está atendendo nas sedes da defensoria em Macapá e Santana.

Também poderá ser feito contato telefônico através do número (96) 99150-5589. 

Seles Nafes
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