Por FABIANO DE MARCO, empresário
Quem é mais nocivo à sociedade? O corrupto ao se beneficiar de uma quantia ou o homicida ao atirar na vítima? O primeiro é discreto, o segundo chocante. Um reduz verba na saúde, o outro subtrai a vida.
Pelo que andei lendo (Misbehaving, Richard Thaler) sobre economia comportamental, tendemos a subestimar os efeitos da corrupção e superestimar os do homicídio. Sentimos a perda até mesmo de uma pessoa desconhecida e exercemos empatia por seus familiares.
Já na hipótese da corrupção, reconhecemos os prejuízos, mas não conseguimos senti-los, pois não nos é evidenciado quem deixou de ser atendido e quais os danos sofridos.
Estas falhas (misbehavior) de percepção se devem às nossas limitações cognitivas, em especial a incapacidade de pensarmos exponencialmente.
O dilema provocado pelo COVID-19 guarda semelhanças com o exemplo anterior e a economia comportamental pode nos trazer luz diante da enxurrada de opiniões a que fomos submetidos.
Evitar a redução no PIB que é mais importante neste momento? A economia ou a saúde? Taxas de emprego ou combater a disseminação do vírus e a mortalidade? Lockdown horizontal ou vertical?
Nos comovemos pela perda dos idosos italianos e brasileiros, assistimos velórios vazios, caminhões do exército e ruas desertas. Mas não sentimos a redução no PIB e na taxa de emprego, não enxergamos onde o dinheiro faltará, tampouco as consequências na vida de quem for afetado. Emprego e PIB são anônimos e invisíveis.
Estaríamos limitados pela nossa capacidade cognitiva e mais uma vez subestimando um dano e superestimando o outro? É certo que todos valorizamos a vida, mas até o momento não encontrei texto ou pronunciamento consistentes a ponto de mensurar e ponderar recomendações de saúde, economia, geopolítica e comunicação.
Certamente há uma resposta certa, resta saber se descobriremos a tempo.