Edital de cultura suspenso ajudaria durante quarentena, criticam artistas

Segmento afirma que projeto ajudaria na renda de mais de 200 famílias. Realização de shows e espetáculos estão suspensos em Macapá
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Um edital lançado pelo governo do Estado e prefeitura de Macapá, voltado para trabalhadores da cultura, causou muita polêmica nas rede sociais. A iniciativa de apoio ao segmento acabou sendo suspensa pelo próprio executivo estadual, após denúncia feita ao Ministério Público Federal (MPF).

O Portal SelesNafes.com conversou com artistas que criticaram a judicialização do edital. Nesse período de quarentena por causa do covid-19, eles que estão tendo dificuldades para garantir o sustento enquanto não podem exercer seu trabalho.

Anderson Pantoja tem 34 anos e é pai de dois meninos gêmeos. Músico, ator e palhaço, ele está cumprindo a quarentena conforme as orientações dadas pelas autoridades. Seu último show com a banda “Pinducos” foi no dia 13 de março. De lá para cá, já são seis shows cancelados.

Pai de dois meninos, artista Anderson Pantoja desabafa: não está fácil. Fotos: arquivo pessoal

Hoje o artista conta com a ajuda de amigos, da família e junto com a esposa vende produtos de cabelo pela internet para se manter. Como para muitas pessoas, ele diz que a situação não está fácil. Viu o anúncio do edital do projeto como uma esperança para aguentar esse período. Mas também viu a repercussão negativa do lançamento e a suspensão com desânimo.

“É triste saber que a população pensa dessa forma, saber que parte do povo se deixa levar por essas acusações. Ver a questão artística como um mero acessório, como sem importância, é de uma ignorância tão grande que fazem com que muitas pessoas se sintam tão inferiorizadas, que pensam até em largar a arte”, contou o jovem artista.

Sem a realização de espetáculos, grupos falam sobre dificuldades para manter renda

Caso similar é o do ator Mauro Santos, da Companhia de Teatro Cangapé. Sem renda fixa, com uma criança de dois anos, ele vive de suas apresentações.

“Agora que temos que ficar em casa, não temos como fazer atividade cultural nenhuma. Ainda tenho mais algumas coisas em casa, mas não sei se isso perdurar mais pra frente, se a gente, nós, artistas, vamos conseguir nos manter”, declarou o ator.

Outra artista, que preferiu não se identificar, lamentou.

“O maior prejuízo dessa denúncia e da suspensão desse edital, talvez nem seja só o valor financeiro, e sim ter colocado a população contra os artistas. Batalhamos muito, estudamos muito para sermos reconhecidos como profissionais, para fazer a população entender que nossa arte não é “falta do que fazer”, como algumas pessoas ainda pensam, e sim ofício, escolhas de vida, trabalho.

Sec. de Cultura do Estado, Evandro Milhomen: edital é voltado para todos os segmentos artísticos. Foto: arquivo SN

Secult

A Secretaria de Estado de Cultura explicou, em nota, que a chamada pública tem como proposta atender 250 famílias, de artistas que não têm renda, de todos os segmentos culturais. O orçamento utilizado, R$ 250 mil, seria da própria pasta, pois eventos tradicionais como a Semana Santa, o Dia Estadual de Cultos Afro e o Ciclo do Marabaixo, que tradicionalmente demandam verbas da secretaria, estão cancelados.

“Esse processo foi interrompido por uma denúncia infundada no MPF. A denúncia fala de que o edital seria apenas para música, mas na verdade é para qualquer produção artística, seja em que segmento for. Aquilo que for arte, pode concorrer. O edital está na Procuradoria Geral do Estado (PGE), ainda sendo analisado para ser homologado. A partir daí, vou sentar com o governador, por causa desse mal entendido, pra ver se a gente ainda lança essa semana. A ideia é atender os artistas que não tem nenhum vínculo, nenhuma renda, que dependam exclusivamente da sua arte”, declarou o secretário de Cultura Evandro Milhomen.

MPF

O Ministério Público Federal afirmou que recebeu a denúncia por meio de seu sistema de atendimento ao cidadão e, que, até o momento, o caso está em análise.

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