Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Jacarés, bicho-preguiça, tamanduá, sucuri e filhote de peixe-boi foram notícia em menos de uma semana, com capturas e aparições registradas pela população de Macapá. Em busca de uma resposta científica para o aparecimento dos bichos, o Portal SelesNafes.com conversou com o biólogo Jerônimo Dias dos Santos (foto de capa).
Além da formação em biologia, Jerônimo tem mestrado e atualmente ocupa o cargo de coordenador de estudos, educação ambiental e acervo da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). De cara, o analista ambiental logo avisou que não há coincidências nas recorrências.
“Estatisticamente, é muito pouco provável que seja só uma coincidência. O aparecimento de animais silvestres em áreas urbanas é um fenômeno natural e até frequente, mas a quantidade significativa de animais que vêm aparecendo no perímetro urbano de Macapá e Santana num curto intervalo de tempo é um indicativo de que há algum desequilíbrio ambiental por trás desse fenômeno”, declarou Jerônimo.
Ele tem três teorias para explicar os acontecimentos.
Primeira hipótese
São fenômenos naturais ocasionados, principalmente, pela estação chuvosa do ano. Com chuvas volumosas, os rios acima elevam seu volume e invadem a floresta, causando maior vazão, com correntes mais fortes, desbarrancamentos das margens e assoreamento dos leitos.
Tais fenômenos naturais (mesmo em pequena escala) podem afetar os habitats naturais de alguns animais, como no caso dos jacarés, cobras, peixe-bois e preguiças, forçando-os a buscarem novas áreas para viverem.
As fortes correntes dos rios podem fazer estes animais se perderem do curso e aparecerem perdidos na orla de Macapá.
Segunda hipótese
Ação humana direta. Caça predatória e, principalmente, a destruição dos habitats naturais e até de ecossistemas inteiros, forçam os animais a buscarem novos habitats, “novas casas”, e levados pelas fortes correntes dos rios, alguns chegam à orla de Macapá (no caso dos animais aquáticos).
Os bichos que invadem as cidades por terra o fazem por dois motivos, um pelo desmatamento (destruição de seus habitats naturais) ou pela caça predatória de suas presas naturais, por exemplo, onças que invadem e atacam animais domesticados porque em seus habitas naturais não há disponível espécies silvestres para ela caçar, como pacas e cutias.
Terceira hipótese
Ação Humana indireta. Essa hipótese é mais difícil de formular, porque necessita de estudos aprofundados, mas algumas situações podem ser consideradas. Ultimamente, ao redor do mundo inteiro animais silvestres são avistados em centros urbanos, como cervos no Japão, ovelhas na Inglaterra, javalis na Itália, peixes nos canais de Veneza.
Tal fenômeno está ocorrendo por causa do isolamento social causado pela pandemia de covid-19, que vem esvaziando as ruas, parques e outras áreas que frequentemente eram ocupadas massivamente por humanos e acabavam “espantando” os animais.
No caso dos rios, a diminuição no tráfego de embarcações nas áreas portuárias das cidades possibilitam que estes animais se aproximem mais, ao ponto de serem avistados ou capturados.
No caso específico do jacaré-açu e do peixe-boi, capturados na orla e no canal de Macapá, ainda não há motivos de preocupações – a não ser que se tornarem frequentes. O ecossistema da orla de Macapá não faz parte dos habitats preferidos dos jacarés e nem dos peixe-bois.
“Possivelmente, o jacaré se perdeu nas fortes correntes do Rio Amazonas, e se aproximou da orla porque estava procurando algum igarapé para entrar, algo que naturalmente é raro acontecer”, explicou o biólogo.
Os peixe-bois preferem águas calmas e seus filhotes vivem juntos às mães até a fase adulta. O que provavelmente aconteceu, segundo Jerônimo, foi que a mãe desse peixe-boi foi morta (por caça humana ou acidente com a hélice de alguma embarcação), e ele estava totalmente perdido.
“Provavelmente iria morrer sozinho se não fosse achado”, previu o biólogo.