Por RODRIGO ÍNDIO
Com formação acadêmica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e 7 anos de atuação, o médico mastologista Marcelo Moura Fé, deu entrevista ao portal SelesNafes.com sobre um dos maiores questionamentos que estão sendo feitos quanto à condução de tratamento de doenças que já eram feitos antes da pandemia, em especial o câncer.
O profissional esclareceu dúvidas sobre o tratamento e a prevenção do câncer de mama na pandemia do novo coronavírus e abordou como deve ser o procedimento para a paciente oncológica que contrair a covid-19. Confira a entrevista:
SelesNafes.com – O que muda no tratamento de câncer durante a pandemia?
Marcelo Fé – O tratamento do câncer de mama, em alguns casos, segue mais de uma linha. Além da cirurgia, podem fazer parte do tratamento a quimioterapia, a radioterapia, a imunoterapia (terapia-alvo) e a hormonioterapia/quimioprofilaxia. A mudança na terapia durante a pandemia tem que ser avaliada e decidida juntamente com o paciente, na tentativa de diminuir a exposição a riscos desnecessários. Em casos selecionados, e isso tem que ser muito bem analisado pelo médico, podemos alternar a ordem das terapias (iniciar medicação antes da cirurgia) ou adiar com segurança o início de alguma nova etapa do tratamento; escolher, a depender do estágio da doença, a forma de administração de alguma medicação ou ainda, escolher medicações com menos efeitos colaterais conhecidos. Tudo isso levando em conta o diagnóstico, o estágio clínico atual do câncer e os recursos disponíveis perante a pandemia.
SN – Existem casos de pessoas que estavam em tratamento de câncer, contraíram a covid-19 e morreram. Como se proteger, se não é possível interromper o tratamento?
MF – Em alguns casos, a covid-19 torna-se a prioridade para o tratamento em relação ao câncer, visto que em alguns pacientes ela se apresenta como emergência médica, com risco de vida e necessidade de intervenção imediata, podendo ser necessário interromper ou adiar o tratamento. Já em outros casos, a interrupção do tratamento oncológico tem que levar em conta o risco-benéfico da exposição do paciente a alguns ambientes, principalmente para os idosos e/ou com comorbidades associadas (hipertensão arterial, obesidade, asma ou diabetes), e a possibilidade de avanço do câncer. O distanciamento social, o uso de máscaras e a higiene das mãos são atitudes essenciais para todos, principalmente para pacientes com câncer, que muitas vezes se encontram com a imunidade baixa devido algumas etapas do tratamento.
SN – O Amapá tem um índice alto de câncer de mama. A doença está associada a que tipo de possíveis causas?
MF – O Amapá, assim como em todas regiões do Brasil, têm apresentado um aumento da incidência do câncer de mama nos últimos anos. Dados do INCA (www.inca.gov.br) revelam essa tendência. A neoplasia maligna de mama, assim como outras neoplasias malignas, tem origem multifatorial. O fator genético hereditário (ou seja, a tendência do câncer passar de pai/mãe para filho) é um fator de baixo impacto, gira em torno de 5%. Acredita-se que mais de 90 a 92% dos cânceres de mama estão relacionados a fatores genéticos adquiridos ou fatores de exposição ambiental, como por exemplo a dieta ricas em gorduras, alimentos industrializados, tabagismo, etilismo, sedentarismo, uso abusivo de hormônios femininos, principalmente após a menopausa (reposição hormonal) e o stress da vida moderna, além de radiações ionizantes. Os hábitos de vida saudável, incluindo boa alimentação e aumento da atividade física, além da realização de exames de rastreamento como a mamografia, se mostram como importante arma contra esse tipo de câncer. É comprovado que fazer a mamografia após os 40 anos ou antes (a depender da história familiar), reduz a mortalidade do câncer de mama.
SN – Existem casos de câncer de mama entre meninas? Quais os tratamentos?
MF – Os casos de câncer de mama em pacientes com idades em torno de 20 anos, embora raros, existem. Em relação a pacientes mais jovens, existe uma tendência no câncer de mama de um quadro com evolução mais rápida da doença, exigindo assim uma maior rapidez no início do tratamento. Esses tratamentos são os mesmos das pacientes com idade mais avançada, diferindo em alguns casos em relação à ordem de inicio das terapias. A cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia, a terapia alvo e hormonoterapia são as armas contra o câncer de mama nessa faixa etária. Em todas as pacientes que desejam e, a depender do estágio da doença, uma opção segura para as pacientes é a oncoplástica. É um tratamento cirúrgico seguro, onde é realizada a reconstrução da mama afetada no ato da cirurgia principal, que pode ser uma com prótese de silicone, expansor de tecidos ou com simetrização da mama oposta. Essa junção de técnicas oncológica e plástica é a tendencia atual para minimizar a sequela da cirurgia do câncer de mama. Salientando-se que o diagnóstico precoce é o fator com maior impacto nas chances de cura, por isso não deixe de consultar seu mastologista.