Por SELES NAFES
A prefeitura de Oiapoque, cidade a 600 km de Macapá, no extremo norte do Brasil, decidiu fazer um apelo à comunidade internacional para combater o novo coronavírus. Numa carta encaminhada a 21 países, a prefeitura Maria Orlanda (PSDB) cita a escalada de casos, falta de leitos e isolamento do centro das decisões. Além disso, a cidade possui apenas um respirador.
Oiapoque é a primeira cidade brasileira ao Norte do país, e faz fronteira com a Guiana Francesa ao longo de 730 km. São mais de 27,2 mil moradores do lado brasileiro e 4,2 mil em Saint-Georges, do outro lado do rio Oiapoque. Até ontem (19), Oiapoque tinha 83 casos confirmados e duas mortes por covid-19.
A carta com pedido de ajuda faz um relato de todas as medidas tomadas até agora para enfrentar o vírus, como o fechamento do comércio, realização de barreiras sanitárias, suspensão de eventos públicos e criação de um auxílio emergencial a trabalhadores. No entanto, nenhuma delas estaria surtindo efeito.
“(…) Não tem tido êxito nas ações pela fragilidade do sistema público de saúde, fragilidade recorrente já de muito antes da covid-19”, diz o documento assinado pela prefeita.
A prefeita, que decretou lockdown por 10 dias, também explica aos países que Oiapoque está a 600 km da capital do Amapá, e a 2,4 mil km da capital do país, num quase isolamento geográfico e político. Além disso, existe uma população de 8 mil índios espalhados por 57 aldeias na região que estariam ainda mais ameaçados.
“Faltam no estado do Amapá leitos de UTIs suficientes para atender a população. A burocracia do governo federal para liberação de recursos não acompanha a rapidez da propagação da doença”.
Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Portugal, Nova Zelândia e Emirados Árabes Unidos estão entre os países que receberam a carta com o pedido de ajuda de Oiapoque.
“Quanto tempo a Guiana vai aguentar ficar com a fronteira fechada? A Guiana está fazendo um trabalho forte para conter o vírus em Saint-Georges e vai conseguir, mas o problema maior está no Amapá e nos brasileiros precisam transitar e isso vai afetar as relações de migração, estima o chefe de relações internacional da prefeitura de Oiapoque, Isaac Silva.
“Precisamos fortalecer a nossa rede pública de saúde. Só temos um respirador. Faltam medicamentos, é muita gente com os sintomas. Temos dengue, chiikunga e malária se misturando com a covid-19”. Ouça o relato de Isaac Silva.