Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
A cidade de Saint-Georges, na fronteira da Guiana Francesa com o Brasil, às margens do Rio Oiapoque, enfrenta escassez de carne e a alta nos preços de alimentos. O “caussolet”, feijão enlatado com salsicha, muito popular no país, está custando até €$ 10,53, ou seja, R$ 66 pelo câmbio oficial da última quinta-feira (14).
Com cerca de 4 mil habitantes oficiais e centenas de pessoas em situação irregular, os relatos são que famílias inteiras de brasileiros tem, inclusive, passado fome. O departamento francês está em quarentena, como medida preventiva à pandemia do novo coronavírus.
Brasileiros que foram até o país em busca de uma vida melhor trabalham em serviços informais. E com o isolamento severo, estão sem trabalhar.
A carne bovina acabou e há poucos dias um carregamento de quatro toneladas de carne do Brasil foi apreendido pelas autoridades policiais.
“A carne bovina consumida aqui vem da Europa e é proibida a carne brasileira. Antes do fechamento, podíamos trazer até dois quilos de carne por casa para o próprio consumo. Assim como a calabresa, a toscana é proibido aqui”, contou a brasileira que também preferiu não se identificar.
Os brasileiros relatam que a alternativa tem sido comer porco e frango, que também estão com os preços sobressaltados nos poucos comércios que existem na região. O açaí, produto muito apreciado pelos amapaenses, não chega há muitos dias na localidade.
Quarentena
Desde o dia 17 de março, os moradores não podem ir até Caiena e também não podem atravessar para Oiapoque, pois a fronteira está fechada.
As aulas estão paralisadas e foi decidido que só retornarão em setembro. Depois das 18 horas, é proibida a venda de bebidas alcoólicas e às 21 horas ocorre o toque de recolher e ninguém pode ir às ruas.
Rede de apoio
Uma fonte que trabalha em apoio a brasileiros que entraram no país de forma ilegal, confirmou que há pessoas passando fome, e que estão tentando buscar ajuda. Ela reclama de falta de apoio por parte do consulado.
“Há sim gente passando fome, não ficam sem comer totalmente porque a gente consegue alguma coisa. Estou há mais de um mês tentando conseguir uma cesta básica para essas pessoas e as autoridades anunciaram que irão dar uma ajuda, mas até agora nada”, declarou a fonte, que preferiu não se identificar.
O Portal SelesNafes.com conseguiu conversar com uma amapaense que mora com sua família na cidade. O esposo tem emprego formal, então a sua situação é menos grave.
Ela relatou que um dia seu filho lhe perguntou se estavam racionando comida. Apesar de não estarem, ela confirmou que o preço dos alimentos está altíssimo.
Apesar de tudo isso, há também pessoas em Oiapoque que tentam retornar a São Jorge por meio de catraias, o que nem sempre dá certo, como podemos assistir no vídeo enviado por brasileiros.
São Jorge tem, até o momento, 37 casos confirmados da doença e nenhum óbito registrado.