Por ARTEMIS ZAMIS, empresário
O período de 1964 a 1985 foi sem dúvida um dos mais tristes, violentos e terríveis da nossa história. Desde a chegada do general Castelo Branco até o general João Batista Figueiredo, foram anos a fio de perseguição de desafetos, censura à imprensa, cassação de mandatos políticos, fechamento do Congresso Nacional, focos de luta armada, tortura, milhares de mortos e desaparecidos, corrupção não investigada, aumento da desigualdade, endividamento do país e inflação sem controle.
Quem viveu a tortura desse período carrega na alma e no corpo, para sempre, as marcas que diariamente lhes rasgam a memória de tão insuportáveis momentos.
A ditadura na concepção moderna, segundo Norberto Bobbio em seu livro “Dicionário de Política” é um regime não-democrático moderno em que há uma acentuada concentração do poder e a transmissão da autoridade politica acontece de cima para baixo. O poder da ditadura tende a ser ilimitado, já que não é contido pela lei, pois o ditador sempre se coloca acima dela. Embora aparentemente sejam mantidas algumas normas jurídicas, quase não tem eficácia real nenhuma, visto que o ditador deliberadamente as ignora.
Desde 1985 com o fim da ditadura, o Brasil luta sem trégua uma árdua batalha para manter sua tão ainda jovem democracia consolidada. Em 1988, o Congresso Nacional promulgou a nova carta magna onde o cidadão brasileiro foi finalmente alcançado, sendo-lhes dado direitos bem definidos, deveres e garantias constitucionais devidamente asseguradas pela justiça em caso de qualquer violação.
Foi o maior ganho para o povo e uma necessidade que a muito se anelava na redemocratização do país e no pós-ditadura. São 32 anos de nossa Constituição cidadã, onde conquistamos liberdade plena de pensamento e de manifestação. Direitos individuais que todos sem exceção tem assegurado.
Lamentável é sair às ruas hoje e nos depararmos com pessoas que defendem a volta do regime militar, o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Lamentável e absurdamente inacreditável é saber que tudo isso é incentivado e compactuado pelo presidente da República do Brasil, que foi eleito democraticamente por 57 milhões de votos. É lamentável nos depararmos todos os dias com uma declaração do presidente que sempre atenta contra a constituição e contra os poderes da República.
O Brasil e o seu povo anseiam por paz, por liberdade e por união de seu povo. O Brasil e seu povo não quer a luta seja ela armada ou não. A única luta que queremos é a que o governo obrigatoriamente teria que travar contra essa terrível pandemia que assola as pessoas e que já nos colocou em segundo lugar no planeta em números de mortos. Precisamos que a vida seja enfim colocada em pauta.
Hoje, temos no poder um presidente que tenta imitar os grandes ditadores da história, por admiração e até mesmo por idolatria, levando junto centenas de apoiadores que por ignorância defendem o absurdo e a bizarrice.
Esta semana, em uma live de rede social, o presidente incitou categoricamente seus apoiadores a invadirem hospitais que tratam pacientes com a covid-19 para filmarem o seu interior na busca de provas se haviam leitos vazios. Não demorou para que fosse atendido. Um grupo de seis pessoas ousaram invadir o hospital Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, e com a truculência que já lhes é peculiar, hostilizaram médicos, enfermeiros e danificaram computadores e portas. Além do trauma causado aos pacientes e seus familiares que nem na dor puderam ter sua privacidade respeitada.
Mas, como citei acima, um ditador não observa leis. Antes as tem como mero subterfúgio para cometer absurdos, promover o medo e a consequente submissão de um povo.
A democracia clama por cuidados.
Não podemos abandona-la agora.
Ditadura nunca mais.