Por SELES NAFES
O desembargador Manoel Brito, do Tribunal de Justiça do Amapá (Tjap), que já é investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por irregularidades em processos, agora foi denunciado também pelo Ministério Público Federal (MPF). Desta vez, ele é acusado de favorecer um empresário que explorava o Macapá Hotel.
A defesa do desembargador fala em perseguição política e exposição da imagem
De acordo com a denúncia ajuizada nesta sexta-feira (12) no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o magistrado teria recebido propina intermediada por dois servidores do Ministério Público do Estado para atrasar o andamento de um processo contra a empresa C.F. Queiroz.
O MPF afirma possuir um conjunto robusto de provas contra o magistrado, o empresário Clécio Queiroz (dono da empresa) e os dois servidores do MP, que incluem conversas no WhatsApp, quebra de sigilos bancário e telefônico, além de documentos apreendidos. No ano passado, o magistrado foi alvo da “Operação Serviço Sério”, da Polícia Federal, que cumpriu mandados de busca e apreensão em seu apartamento residencial e no gabinete funcional.
“A denúncia narra crimes apurados no âmbito do Inquérito 1.264, que investiga o recebimento de vantagens indevidas pelo desembargador, por meio dos servidores do Ministério Público estadual, para favorecer a empresa C.F. de Queiroz, inclusive retardando dolosamente o regular andamento de uma ação judicial”, diz nota divulgada pelo Ministério Público Federal.
A ação foi ajuizada pela subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo.
“Os elementos colhidos nos autos são fortes no sentido de corroborar a imputação de crime de corrupção passiva do desembargador Manoel Brito, em conluio com os demais denunciados”, frisa a subprocuradora.
A C.F. Queiroz explorava o Macapá Hotel, que pertence ao governo do Estado, sem contrato de locação e sem o pagamento de alugueis durante anos. No ano passado, a empresa foi despejada e está sendo processada pelo Estado que cobra a dívida.
Julgamento no CNJ
A subprocuradora também pediu abertura de processo administrativo no CNJ, onde o desembargador também já responde procedimento por suposto favorecimento em outros processos. Neste caso, o julgamento foi suspenso quando o magistrado já acumulava oito votos desfavoráveis. A previsão, segundo o MPF, é que o julgamento seja retomado na semana que vem.
Na ação ajuizada ontem, o MPF pede a condenação dos denunciados por corrupção passiva, corrupção ativa e ocultação de valores, além da perda das funções públicas e o “perdimento e proveito dos crimes” no valor de R$ 20 mil. A ação quer ainda uma indenização por danos morais coletivos de R$ 80 mil para cada um dos investigados, assim como o afastamento do desembargador e dos servidores.
Perseguição política
Aos 67 anos, Manoel Brito continua na ativa mesmo depois de ter solicitado aposentadoria no fim do ano passado, logo após deixar a presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
O advogado e filho do magistrado, Auriney Brito, disse não saber se é verdade a denúncia, apesar da divulgação feita pelo MPF.
“A forma como foi divulgada não esconde as características de um ato de perseguição política. Essa postura de exposição pública surpresa não é compatível com o histórico de bons serviços prestados pelo MPF. Vamos saber o que está havendo”, disse ele.
De acordo com ele, o processo corre em segredo de justiça, e nem os advogados tiveram acesso à denúncia.
“Se realmente existe denúncia, foi jogada para a plateia com o único objetivo de denegrir a imagem do desembargador numa provocação de julgamentos antecipados por parte da população. Escolheram o pior momento social possível para fazer política. Poderiam estar cuidando da saúde do povo”, criticou.
O portal SelesNafes.Com tenta contato com a defesa do empresário Clécio Queiroz.