Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Se não fosse a pandemia de covid-19, Patrícia Pereira da Costa, de 34 anos, já estaria com o diploma nas mãos. Apesar do adiamento da outorga, ela já comemora a conclusão do curso de pedagogia, feito com muito esforço diário e custeado com o dinheiro da farinha de mandioca produzida por sua família e comunidade.
Patrícia, mais conhecida como “Ticynha do Quilombo”, é da comunidade Quilombo Alto Pirativa, que fica na margem esquerda do igarapé Pirativa, um pequeno braço do Rio Matapí, dentro dos limites do município de Santana.
Da sua casa, de rabeta ou catraia até a balsa ou ponte do Rio Matapi, a moça gastava às vezes entre duas ou três horas, para depois seguir viagem até a sua faculdade que fica no bairro Laguinho, região central de Macapá.
Mas além disso, como todo amazônida sabe, quem rege os horários são as marés, e muitas vezes ela relata que teve que sair antes mesmo do sol nascer para chegar na aula que começava apenas no período da tarde.
A farinha é o principal produto econômico e fonte de renda da comunidade quilombola. Ticynha conta que trazia o produto e ia distribuindo, vendendo em Macapá, às vezes fiado, e na época de pagar a mensalidade, ia recebendo o dinheiro.
Ela agradece muito a mãe e os tios, que conta terem sido fundamentais em todo esse processo, do início ao fim.
“Sempre mantive minhas raízes fincadas no quilombo e eu tenho muito orgulho de dizer que eu consegui concluir minha faculdade dependendo da minha venda de farinha, dependendo do abraço, do esteio da minha família que é minha mãe e os meus tios, que eu tenho uma eterna gratidão”, contou Patrícia.
Próximos passos
Após a formatura oficial, que deve acontecer assim que as medidas de quarentena e isolamento diminuírem, Patrícia já vislumbra fazer uma pós-graduação, justamente na área que muito lhe toca, sobre desigualdade de oportunidades entre as raças.
“A luta continua. Só nós, negras e negros desse país, sabemos o quanto é difícil ocuparmos lugares e dizer que nada é impossível. Se tem uma dificuldade, você tem que abraçar e dizer: eu vou conseguir!”, concluiu Ticinha do Quilombo.