Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Camponês, indígena, cooperativista e amapaense são algumas das categorias que podem tentar sintetizar as várias caraterísticas de Raimundo Apóstolo Santana, que faleceu aos 53 anos.
Apóstolo foi vítima de uma pneumonia e acabou não resistindo a um edema pulmonar agudo e uma parada cardiorrespiratória, no início da tarde do último sábado (13), no Hospital das Clínicas Alberto Lima (Hcal), em Macapá.
Histórico
Loyanna Santana, uma de suas filhas, conversou com o Portal SelesNafes.com e contou um pouco do extenso histórico do pai, que nasceu no Dia do Índio, 19 de abril, em Xivete, comunidade rural à beira do Rio Amapari, no município de Pedra Branca do Amapari.
Para receber educação, teve que se mudar e desde cedo despertou para o que seria a sua principal característica durante toda a vida: ajudar as pessoas. Primeiro quis ser padre e se tornou seminarista em Macapá e mesmo após romper com o seminário por divergências, manteve-se perto do trabalho cidadão da Igreja Católica, especialmente da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Foi consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) em assuntos relacionados à fome e o combate à miséria. Neto de Maruaru Apalay, por sua ascendência próxima, se reivindicava indígena da etnia Apalay. Foi o primeiro titular da Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Estado do Amapá.
Mas foi nas comunidades rurais e defendendo a agricultura familiar que teve sua atuação de maior destaque. A rodovia BR-210, a Perimetral Norte, foi sua grande avenida de atuação. Defendia agricultores, índios e garimpeiros e militava contra a mineração em grande escala. Por duas vezes, tentou ser prefeito de Pedra Branca do Amapari, sendo bem votado, mas sem vencer o pleito.
Atualmente integrava a Cooperativa de Produtores Agroextrativistas do Oeste Amapaense (Coopetral), onde ajudava a organizar os pequenos produtores e o extrativismo de todo o Amapá.
Loyanna contou que seu pai adorava tomar banho de chuva, que se emocionava e chorava fácil quando escutava uma história bonita.
“Dia 5 ele disse: ‘Eu não tenho medo de morrer, minha filha. Tu tem?’ Eu disse: ‘Não quero ir agora não, pai’. Ele disse que quando a vida é vivida com sentido, a morte faz parte”, escreveu Loyanna que lembrou que no dia do falecimento do pai choveu muito no Amapá.
Repercussão
Algumas das lideranças políticas do Amapá repercutiram a morte de Apóstolo. Em uma rede social o governador Waldez Góes (PDT) escreveu.
“Meu amigo Raimundo Apóstolo Santana nos deixou hoje. Uma notícia triste que me abalou profundamente”, diz trecho da nota do governador.
O senador Randolfe Rodrigues (REDE), também homenageou o ativista.
“Conheci o Apóstolo durante os anos 1990, nas lutas sociais por democracia e justiça, na sua trajetória de vida sempre teve um lado muito claro, o dos mais pobres”, declarou o parlamentar.
O ex-governador João Capiberibe e a ex-deputada Janete Capiberibe, do PSB, recordaram a trajetória do ex-secretário em nota.
“Um apaixonado pela agricultura familiar e o extrativismo, Apóstolo, trabalhava de forma coletiva e sempre acreditava na produção de atividades agrícolas no sentido de transformar a vida das pessoas para melhor”, declararam.