Os tristes anos de nossos índios

Já se foram 520 anos desde que os portugueses aportaram por estas bandas e é exatamente o mesmo tempo em que massacram, exploram, matam e torturam, nossos irmãos índios
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Por ARTEMIS ZAMIS, empresário e articulista

Quando Abraham Weintraub na fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, entre tantos impropérios e ofensas, se dirigiu aos povos originários do Brasil com todo seu desdém, ódio, deboche e menosprezo a toda a nação indígena, via-se ali a atitude de um aluno aplicado que aprendeu rápido os contornos de um projeto já em execução de extermínio do povo indígena.

Sei que surgirão pessoas que provavelmente dirão tratar-se de um exagero, mas é fácil constatarmos tratar-se de um fato, com apenas algumas consultas na mídia sobre o que tem ocorrido nos últimos meses com os nossos índios.

“Odeio o termo “povos indígenas”, odeio esse termo. Odeio. O “povo cigano”. Só tem um povo. Pode ser preto, pode ser branco, pode ser japonês, pode ser descendente de índio, mas tem que ser brasileiro, pô! Acabar com esse negócio de povos e privilégios. Só pode ter um povo”, disse o ex-ministro da educação.

Já se foram 520 anos desde que os portugueses aportaram por estas bandas e é exatamente o mesmo tempo em que massacram, exploram, matam e torturam, nossos irmãos índios.

Chegada dos portugueses 520 anos atrás: 5 milhões de índios reduzidos para 900 mil

Pintura retrata a primeira missa no Brasil, com a presença de índios

Em 1500, os nossos descobridores viam os índios como pessoas de segunda classe, atrasados, selvagens, imorais. Achavam também que não tinham alma e por tudo isso, aliado a ideia de que atrapalhavam a pilhagem das riquezas naturais, era melhor que começassem desde já a matança sem trégua, que dura até os dias de hoje.

Só no período da ditadura militar foram dizimados mais de 8 mil índios por estarem atrapalhando a abertura de estradas idealizadas pelo Programa de Integração Nacional que levaria o “progresso” até os mais longínquos rincões da mata amazônica.

75% da população dos Waimiri-Atroari foram mortos em um curto período de menos de 15 anos. Os Panarás perderam 84% de seu povo, metade dos Parakanás foram igualmente mortos e apenas 10% dos Yanomamis do rio Ajarani conseguiram escapar do extermínio em prol do “progresso”.

Charge sobre a disputa entre arrozeiros e habitantes da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima

Hoje, os nossos índios ainda continuam “impedindo o progresso”. Em Belo Monte e Tapajós, os Arawatés, Jurunas, Araras e Mundurucús, em São Paulo os Guarani mbiá, e em Mato Grosso do Sul os Guarani-Kayowá continuam “impedindo o progresso do agronegócio.

É cruel e avassalador o que fazem há 520 anos com a nação indígena. De todas as mudanças radicais que tivemos desde então no Brasil e no mundo, nada, absolutamente nada mudou para nossos povos indígenas.

Em 1500 eram em torno de 5 milhões, com mais de 1000 tribos e hoje não passam de 900 mil índios com cerca de 305 etnias.

A pandemia que hoje passamos está sendo o golpe de misericórdia para esse povo. Não bastasse o descaso das autoridades, a dificuldade das distancias e a falta de empenho dos órgãos competentes para atendê-los, estão sendo largados à própria sorte. O índice de suicídios é assustador e o choro por conta desse sofrimento interminável é constante e totalmente desumano.

Casal Isaká Huni Kuin, 80 anos, e Buni, 60 anos, em Rio Branco. Foto: Ramon Aquim

Por mais incrível que possa parecer, o homem branco que extermina os índios de hoje é o mesmo de 520 anos atrás. Nada mudou. Nem os motivos nem os projetos. Morrem por defenderem o que lhes é de direito, sua floresta e sua biodiversidade. É tudo o que possuem e é tudo o que mais querem.

A nossa Amazônia abriga a maior biodiversidade do mundo e é essencial para o equilíbrio climático de todo o planeta. Nossos índios são os guardiões desse enorme bem há 520 anos e agora precisam de ajuda para continuarem a guardar o que temos de mais precioso para a continuidade do homem.

2018: Índios em manifestação no Monumento do Marco Zero, em Macapá

É chegado o momento de nos unirmos de maneira forte e contínua para cobrar das autoridades constituídas e das que elegemos, providencias objetivas, claras e rápidas no sentido de que parem de imediato com essa crueldade aos nossos índios e levem aos tribunais, os executores e causadores de mais essa triste tragédia humanitária agravada nesses últimos anos.

Salvem nossos índios, salvem os guardiões de nossas florestas!

Seles Nafes
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