Por RODRIGO ÍNDIO
O técnico em enfermagem Sandro Rogério foi uma das centenas de pessoas que perderam a vida para a covid-19 no Amapá. Ele faleceu no dia 27 de maio, mas a dor dos familiares vai custar a passar.
A viúva Socorro de Paula, de 59 anos, só teve a confirmação do óbito 4 horas após o falecimento. Indignada, sem poder sequer ver o corpo – por conta dos protocolos de segurança – a viúva passou por um constrangimento ainda maior.
Três dias depois, Socorro recebeu um telefonema da direção do Centro Covid-19 Santana.
“Traga a sandália, do Sandro, ele está precisando”, diziam na ligação.
Socorro saiu desesperada de casa, na esperança de seu marido estar vivo. No caminho, pensava que a notícia da morte dele poderia ter sido um engano. Contudo, ao chegar ao centro, a informação estava errada.
“Na esperança dele estar vivo, me perguntava: ‘quem enterrei, não foi o Sandro?’. Cheguei lá com a sandália e tive resposta negativa. Desabei novamente. Desde então, não durmo, sinto falta do meu marido porque só éramos nós dois”, detalhou, ainda abalada.
Socorro de Paula conviveu 22 anos com Sandro. Ela só tem um rim e era Sandro quem lhe acompanhava em seu tratamento fora do Amapá. Indignada, a mulher desabafa.
“Não quero olhar para cara desses que brincam com a vida das pessoas. Gente, por favor não brinquem, não façam festas, não deixem de usar máscaras. Meu marido trabalhava na linha de frente, se cuidava, mas morreu. Cuidem-se, pois dói muito perder alguém, muito”, disse, chorando.
A última homenagem ao marido, foi feita na tarde de sábado (27). Junto com familiares de outras vítimas da covid, Socorro plantou uma árvore em memória de Sandro na Praça Chico Noé no bairro do Laguinho, zona central de Macapá.
A iniciativa foi da Associação das vítimas de covid-AP, que representa mais de 400 vítimas, e busca legalidade. Foram plantadas por familiares e amigos mais de 50 mudas de árvores. Cada uma representando um ente querido diferente.
A homenagem foi feita para manter a memória e o legado dos guerreiros que tombaram na guerra contra o coronavírus. Um deles foi Paulo Xavier, o primeiro médico a perder a batalha para a doença no estado. Ele também teve uma árvore plantada em alusão ao seu nome.
“Estamos aqui por motivo de renascimento e esperança para todos. Essa pandemia está marcando mais que o naufrágio do novo Amapá. Nossa associação não é política, e sim de apoio, para reforçar as lembranças e a importância que as pessoas tiveram para nós. Temos um projeto para criar um local para fazer um marco para as vítimas. A gente espera que as pessoas não venham aqui deteriorar e respeitem nossa dor”, solicitou o filho de Paulo Xavier, o enfermeiro Robson.