Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Mais antigos que o próprio Amapá, o povo da etnia Palikur, que vive ao longo de aldeias do Rio Urukawá, na bacia e na Terra Indígena Uaçá, tem uma tradição secular na fabricação de farinha de mandioca, familiar e artesanal.
Mas, com o avanço tecnológico, também estão cada vez mais conectados na grande rede mundial de computadores, a internet. Apesar disto, os costumes antigos, tradicionais, não foram deixados de lado.
Na aldeia Kumenê, comunidade com quase 1 mil habitantes, a família de Zildo Felício, vice-cacique da aldeação, mantém uma grande casa de farinha que remonta à processos de fabricação de pai para filho.
“Pode comprar, que aqui é torrada e não é azeda”, garantiu o líder indígena, mostrando a linha de fabricação, ou pelo menos parte dela. Isso porque antes das benfeitorias feitas na casa de farinha, há cuidados no processo da roça da mandioca. Após a colheita é que ela fica de molho e é descascada.
Índio trabalha muito
Com a mandioca descascada, acompanhamos o início do trabalho desde os primeiros raios de sol da manhã. Corta, seca, espreme, peneira, seca de novo, corta, peneira novamente e, enfim, envia para um dos três fornos da casa.
O processo envolve um núcleo familiar e agregados, ou seja, pai, mãe, filhas e filhos, genros e noras. Também os netos somam-se na produção. Pelo menos 15 pessoas por família participam do processo.
Há revezamentos, pois todas as tarefas parecem ser extenuantes fisicamente. O trabalho inicia antes do amanhecer e segue até às 16 horas de cada dia, quando a temperatura provoca altas transpirações debaixo da casa de farinha.
“Trabalhamos mais ou menos 9 dias seguidos, daí damos uma pausa de dois a três dias para o descanso. Fazemos de 300 a 400 quilos de farinha por dia”, contou o patriarca.
Depois do processo todo, ainda tem a venda. E o escoamento da produção não é tarefa fácil: a viagem de voadeira para o polo do Manga – aldeia interligada via terrestre com a BR-156 – dura cerca de 4 a 5 horas, dependendo do motor e do peso que a embarcação está carregando.
Uma vez no polo, é pegar uma condução automobilística e seguir até a sede da cidade de Oiapoque, onde a farinha é comercializada por aproximadamente R$ 5 o quilo.
Internet
A comunidade, que tem uma grande Unidade Básica de Saúde (UBS), uma escola muito bem estruturada, energia elétrica (gerador) de 14 às 23 horas, segue cultivando suas raízes. No entanto, a tecnologia também já deixou sua marca: todos os dias, à partir das 14 horas, os indígenas vão até à Escola Estadual Moysés Yaparrá, que tem o único sinal de internet da localidade.
O sinal vai enfraquecendo conforme vai aumentando o número de usuários e a rede vai sendo dividida até que uma única mensagem de whatsapp não é enviada por falta de sinal.
Fabrício Batista Labontê, de 12 anos, utiliza a internet mais para jogar, no caso, um jogo musical com piano.
Fabrício está na 6ª série, sua matéria predileta é história e ele ainda não decidiu o que quer fazer no futuro, mas tem toda a certeza que gosta de farinha e também de internet.