Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
O Portal SelesNafes.com mostrou, nesta terça-feira (7), a situação de abandono e sujeira na sede da União dos Negros do Amapá (UNA), no bairro do Laguinho, área central de Macapá. A matéria foi amplamente debatida por outros veículos e reacendeu a opinião da comunidade sobre a administração da entidade.
A repercussão provocou reações até mesmo nos moradores em situação de rua que ocupam o local. Nesta quarta-feira (8), um casal que “mora” há oito meses na UNA, começou a capinar e limpar por conta própria o local.
O homem conta que tem estudo, tinha uma vida normal, mas que é usuário de drogas ilícitas e que por isso passou a ser morador de rua.
Os dois dividem o salão principal com outro morador, que atende pelo apelido de Pelé, quem também dorme e descansa no espaço há quatro anos. Os três reparam carros em um supermercado ao lado da UNA e fazem pequenos “bicos” pelas redondezas quando aparecem.
“Já moro há quase oito meses aqui na UNA. Não tenho pra onde ir com a minha esposa, e pelo fato de estarmos morando aqui, a gente decidiu ajudar na limpeza, serve pra nós mesmos que moramos aqui”, justificou o morador de rua.
Segundo ele, muita gente entra de noite no espaço. São pessoas com produtos de roubos, para usar drogas ou para fazer programas sexuais. Os três que lá moram limitam-se ao salão principal, tendo, inclusive, o carinho de moradores próximos que sabem que eles não se envolvem em atos criminosos e entendem a condição de vulnerabilidade deles.
Outro ajudante da limpeza, Felipe da Silva Ferreira, de 34 anos, não mora no local, mas afirma que por ter a “pele preta”, resolveu se voluntariar para contribuir.
“Eu sou de pele escura também e faço parte dessa consciência negra e fui convidado para participar desse mutirão. Esse patrimônio é histórico, faz parte da nossa história. Ninguém está nos pagando para fazer isso”, declarou Felipe.
Problemas que se cruzam
O abandono da sede social da UNA, a deterioração do patrimônio, acabam encontrando paralelo em outro problema de cunho social, o da “drogadição” abusiva e o das pessoas em situação de rua.
O casal preferiu não ser identificado e nem ter os rostos fotografados, mas demonstrou consciência sobre sua atual situação. Para tomar banho, eles enchem baldes com a autorização do supermercado ao lado. O homem afirma ter estudo, parentes importantes e espera que sua situação seja transitória.
“Se alguém pudesse nos ajudar, nos colocar em um quarto, apartamento, uma espécie de abrigo, a gente topava ir. Inclusive sou sobrinho de um deputado que não ajuda. Estou há quase dois anos fora de casa e de uma vida padrão, foi a droga”, lamenta o rapaz.
Ele mostrou um chinelo remendado, pediu todo tipo de ajuda, como roupas e calçados, e finalizou informando que anseia por dias melhores, para ele e para a entidade.