Amapá tem queda de suicídios, mas registra aumento de casos entre meninas

Em 2019, até o mês de agosto foram registrados 46 casos. Em 2020, no mesmo período, foram 29 – redução de 37%.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Em comparação com 2019, em 2020 o Amapá apresentou uma redução significativa no número de tentativas e de casos de suicídio, é o que aponta o relatório da Unidade de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (UDNT), da Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá (SVS-AP) – órgão estadual.

Em 2019, até o mês de agosto foram registrados 46 casos. Em 2020, no mesmo período, foram 29 – redução de 37%. As chamadas lesões autoprovocadas, também caíram.

Os relatório é formado por dados extraídos de três fontes, os Sistemas de Informações de Mortalidade (SIM); de Informações Hospitalares (SIH); e de Informações e Agravos de Notificações (SINAM).

Homens em idade adulta, entre 20 e 29 anos, seguem sendo as maiores vítimas

Homens em idade adulta, entre 20 e 29 anos, seguem sendo as maiores vítimas. Mulheres jovens têm apresentado crescimento preocupante.

Embora o Estado do Amapá esteja dentro da média nacional de casos de suicídio, com 7,2 casos a cada 100 mil habitantes, a capital, Macapá, tem apresentado um crescimento expressivo e preocupante: em 2016 foram 5,1 casos por grupo de 100 mil habitantes, e em 2019 esse número subiu 9,1 óbitos.

Mulheres jovens têm apresentado crescimento preocupante. Fotos: Divulgação

Para entender melhor a estatística e a dinâmica dos estudos, o Portal SelesNafes.Com conversou com a enfermeira Michele Maleamá Sfair, responsável técnica da Vigilância de Violências e Acidentes (Viva-SVS). Acompanhe a entrevista:

Por que homens são as maiores vítimas de suicídio?

Esse é um fenômeno global. Geralmente, está ligado ao fato de que os homens utilizam os métodos mais letais e acabam sofrendo por isso. Nós tínhamos um número maior de tentativas, e ainda temos, por parte do sexo feminino, e a mortalidade maior no sexo masculino. Mas, o que estamos percebendo, é que as mulheres estão usando cada vez mais meios mais letais.

E esse crescimento entre mulheres?

Uma coisa eu chama atenção é que essas mulheres são meninas, estão em uma faixa etária entre 15 e 19 anos, então, mulheres ainda jovens, adolescentes, estão em período escolar e é importante verificar em que cenário, que condições, deixam essas mulheres mais vulneráveis ao suicídio.

A gente sabe que os suicídios têm outras situações como pano de fundo, a gente sabe que é um fenômeno multifacetado, mas também está muito ligado a outras formas de violência, como por exemplo, mulheres que já sofrem abuso sexual, que já sofrem outras formas de violência física ou psicológica, mulheres que podem estar passando por outras situações, situações como o bullying. Há muitas outras situações que podem tornar a pessoa mais suscetível, mais vulnerável a essas questões.

Para Michele Maleamá, o suicídio está ligado a outras formas de violência, por exemplo, mulheres que já sofrem abuso sexual ou outras formas de violência física ou psicológica. Foto: Marco Antônio P. Costa/SN

Então, merece um estudo mais aprofundado, imergir mais desse universo, se aproximar mais dessas meninas e eu creio que, dentro desse cenário, a prevenção é fundamental, abrir espaços de diálogo dentro das escolas aonde essas meninas frequentam, isso é fundamental para que a gente possa acessar e verificar. Uma pessoa quando chega ao suicídio, ela está em um nível de sofrimento mental muito grande.

Quais os possíveis motivos dessa diminuição até o mês de agosto?

Seria importante fazermos um estudo aprofundado. Eu creio que a academia, a Unifap, tem se debruçado sobre questões relacionadas ao suicídio. Esse ano estamos vivenciando um fenômeno atípico, que é a pandemia de covid-19. Isso mudou o “modus vivendi” da sociedade, ela mudou a forma como nós nos relacionamos com absolutamente tudo.

A questão do distanciamento social, provavelmente, gerou uma série de impactos. O fato é que nós estamos com vários espaços de frequência coletiva, como trabalho e escolas, fechados. Mas, em compensação, temos uma oferta muito ampliada de suporte psicossocial, quer seja através de um meio online, ou através de telefones, a gente tem visto que toda a sociedade tem se organizado para dar suporte psicossocial às pessoas.

Com certeza, nesse cenário, não entram apenas as pessoas que estavam em sofrimento mental por conta da covid ou da perda de ente queridos, mas também outras pessoas, que por outras situações, estariam em sofrimento mental. Então, a abertura de um canal de diálogo pode levar a um esvaziamento das demandas psíquicas que muitas vezes a pessoa não tem resposta, não tem uma assistência adequada. Ela consegue ter uma assistência, muitas vezes ela consegue até se manter anônima, eu creio que isso também pode favorecer a redução.

A questão da ampliação dos espaços de escuta, embora eles não sejam presenciais, mas é importante que possamos fazer uma análise mais conjuntural. Essas pessoas não estão chegando aos serviços de atendimento, a gente percebeu que tem uma redução drástica também nas tentativas de suicídio, não só no suicídio consumado, então, logicamente a gente acaba tendo uma demanda menor, não estamos tratando número grande de pessoas que estão digamos caracterizada por uma ou várias tentativas e aí a gente precisa verificar, se tem a ver com isso.

Tem que ver também com o fato de que as pessoas estão em um espaço de convivência comum, dentro do seio familiar, tendo mais contatos com os pares, com pai, com mãe, enfim, se isso é um ambiente estruturante, são várias as interrogações colocadas aqui e nós esperamos que venham pesquisas que possam trazer uma resposta até para que a gente possa produzir um formato de intervenção que eleve a uma durabilidade da queda desses índices, que é o desejável para a sociedade amapaense.

Seles Nafes
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