Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Todo mundo já sabe que no verão amazônico o preço do açaí sobe na entressafra do mais cobiçado produto da culinária amapaense, mas neste verão, a escassez do produto é ainda maior, fechando parte das batedeiras e encarecendo o produto para o consumidor.
Antes vendido entre R$ 10 e R$ 12, o litro agora é encontrado até por R$ 17,00, mas há relatos de dias em que o produto foi mais caro ainda, passando da barreira dos R$ 20. Os donos de batedeiras alegam que não têm culpa, e que está realmente difícil de encontrar o produto, e mais ainda de encontrá-lo na qualidade que o amapaense está acostumado.
O motivo é a entressafra nas ilhas do Pará, próximas à Macapá, e do açaí nativo do interior do Amapá. A saca, que em tempos de safra custa entre R$ 80 e R$ 100, não sai agora por menos de R$ 250, tendo chegado a R$ 280, em alguns dias.
Como diria o poeta Joãozinho Gomes, a Jussara, “a mais magra das palmeiras, mas mulher de sangue grosso”, precisa de muita água para desenvolver seu fruto e com poucas chuvas, está colocado o problema.
Atravessadores
Kinho Mira, comerciante dono de batedeira no centro de Macapá, é um dos que sentem os reflexos. Ele também culpa os atravessadores.
“O açaí fica difícil, fica muito caro. Hoje o açaí está disparado no preço. Na verdade, a maioria dos companheiros de açaí, 90% deles, o pessoal não sabe ficar um, dois, três dias sem trabalhar pra dar um desprezo nesses atravessadores, então os atravessadores chegam, oferecem açaí de tudo quanto é preço aqui, explorando do jeito que querem. Aí os batedores de açaí acabam comprando e acabam repassando esse açaí em um preço altíssimo para o consumidor”, contou Kinho, que na semana passado trabalhou apenas um dia.
Fator Belém e qualidade
De cinco donos de batedeiras de açaí consultados, todos foram unânimes sobre a qualidade inferior do açaí que está chegando na mesa do cliente. Ocorre que no Pará, mais especificamente Belém e sua região metropolitana, também há escassez, mas o produto está chegando antes lá do que aqui.
O açaí que está sendo consumido aqui está vindo, majoritariamente, dessa região, das ilhas próximas de Belém. Parte dele é o chamado “congelado”, e outra parte já chega sem qualidade. Os batedores de açaí contam que ele tem menos “carne” e rende menos.
“Abri essa semana quatro vezes só. Esse açaí tá vindo tudo de Belém e lá também está em falta. Aqui em Macapá já acabou tudo e nunca tinha chegado nesse preço a saca. O cliente fica brabo com a gente, mas não temos jeito. O movimento tá ruim” declarou o comerciante Bruno Gonçalves.
Disputa
Para encontrar o melhor açaí é preciso acordar cedo, ou nem dormir. Esse é o caso de Cleiton Almeida Dias, que fala sobre a qualidade e relata que chegou na “Rampa do Açaí”, no Santa Inês, uma hora da manhã.
“Essa é a pior entressafra, já paguei até R$ 300 na saca. Na safra tem mais qualidade, ele sai bem vermelhinho e cheiroso. Esse é colhido ainda um pouco verde, aí não rende. E outra: nessa época, acaba comprando açaí só mesmo quem tem condições, porque os pequenininhos ficam sem. Estou aqui sem dormir, cheguei na rampa uma hora da manhã pra conseguir comprar. Tá dureza, mas a gente vai seguir”, finalizou Cleiton.
Segundo os batedores, somente no final de novembro e mais certamente em dezembro, é que a situação tende a se normalizar, obviamente, dependendo do fator chuva.