Revisionismo sim, negacionismo jamais

O negacionismo é definido como uma maneira de fugir de uma verdade desconfortável. Revisionismo é essencial para nos atualizarmos
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Por ARTEMIS ZAMIS, articulista e empresário

Já estava quase fechando o escritório ontem, e um último atendimento do dia deixaria a marca do que atualmente está se tornando moda no mundo: o negacionismo. Com a máscara abaixo do queixo, voz alta, vitalidade a flor da pele, a senhora de seus 75 anos ou mais, depois de advertida para que usasse a máscara adequadamente conforme lei municipal, questionava:

– Você já parou pra perceber que esse vírus não atinge os velhos? Já percebeu que todo dia idosos saem dos hospitais acenando sorrindo e vendendo saúde? Perguntava ela.

– Isso é balela e conversa fiada de quem é fraco, complementava a intrépida senhora.

Conversa vai e conversa vem, depois inclusive de se recusar a passar o álcool gel e fazer o vendedor se paramentar parecendo astronauta, deixou a loja e todos nós com a certeza de que vivemos de fato o negacionismo contagiante e altamente perigoso para os nossos dias.

O negacionismo é definido como a escolha que se faz em se recusar a aceitar uma realidade comprovada. É não aceitar um fato, para escapar de uma verdade não muito confortável. Mas eu gosto muito da definição de Michael Specter, em seu livro “Denialism – Como o pensamento irracional impede o progresso científico, prejudica o planeta e ameaça nossas vidas”, que define o negacionismo como o que acontece quando um seguimento inteiro da sociedade, muitas vezes lutando com o trauma da mudança, se afasta da realidade em favor de uma mentira mais confortável.

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No mundo todo, assistimos o negacionismo tomando forma na política do ocidente e em alguns países da Ásia como no caso das Filipinas. Nega-se a ciência, a humanidade, a geologia com a teoria de que a terra é totalmente plana, afirmações criacionistas e bíblicas em detrimento da evolução por seleção natural de Darwin; negam o holocausto a ida do homem à Lua, o aquecimento global, negam o racismo, a história e sistematicamente a verdade comprovada.

O Brasil e os Estados Unidos da América tomaram pra si a bandeira do negacionismo como fundamento inalheável da direita, para defenderem o status quo, e com isso, se perpetuarem no poder alienando seus povos com a premissa da recusa em admitir a realidade de fatos atuais e históricos para pavimentar uma nova realidade obscura e sem sentido.

Brigadista observa fogo consumindo Pantanal.. Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

O fogo consome o Pantanal do Mato Grosso, um dos mais importantes biomas do mundo. A Amazônia arde dia e noite e o que assistimos são ataques, críticas e contestações de dados do INPE, (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, órgão que desde 1960 quando foi criado, tem sido mundialmente reconhecido como um dos mais importantes em tecnologias de desenvolvimento sustentável, etc.

Nega-se o tamanho do desastre com um comparativo de que o incêndio da Califórnia é maior que o do pantanal mato-grossense, nega-se a ciência quando minimizam os efeitos da Covid-19, nega-se tudo que comprovamos com nossos próprios olhos e agora também negam a fome que assola o país.

Quem sofre com a dor da fome, jamais entenderá quem se nega a acreditar na sua dor e quem provoca a fome jamais entenderá a dor de quem sofre com ela.

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É urgente a necessidade de combatermos esse negacionismo ideológico.

Revisar a história através de novas fontes, grandes estudos, novas descobertas, evidências documentais, pesquisas sérias com argumentos solidificados, isso sim muda o mundo e a história. Esse é o revisionismo necessário que queremos.

Que tenhamos a inteligência de negar o negacionismo e acreditar no revisionismo necessário à nossa vida e a nossa história.

Seles Nafes
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