Por SELES NAFES
O juiz David Khols, da 1ª Vara de Laranjal do Jari, aceitou a denúncia do Ministério Público do Amapá e tornou réu o mestre de obras José Lúcio Silva, de 62 anos, preso pelo feminicídio da ex-companheira Karina Lobato Silva, de 30 anos, ocorrido no dia 7 de setembro. O magistrado também determinou a apreensão de imagens de circuitos de câmeras de um hotel, restaurante e supermercado onde o acusado comprou a arma do crime, uma faca.
Baseada no inquérito policial, a denúncia narra com detalhes os acontecimentos que antecederam a morte de Karina, e revela que ela chegou a se encontrar com o assassinado no hotel onde ele estava hospedado, um dia antes do crime. Uma câmera de segurança mostrou os dois entrando no quarto do criminoso, onde ficaram por cerca de uma hora.
José Lúcio não estava mais morando em Laranjal do Jari, onde viveu por dois anos com Karina e dois filhos menores dela numa casa alugada. Ao terminarem o relacionamento, o MP afirma que o mestre de obras causou vários prejuízos na residência, prometendo depois que iria ressarcir a vítima, o que não teria ocorrido.
No dia seguinte ao encontro no hotel, José Lúcio teria sido avisado que a ex-companheira tinha outro relacionamento, havia pelo menos dois meses. Ele soube onde ela havia passado a noite, e decidiu passar em um supermercado.
A entrada dele, a compra da faca e a saída do estabelecimento também foram filmados. O MP afirma que ele foi até o apartamento apenas para sondar o ambiente, onde encontrou o atual namorado de Karina e um amigo dele com quem dividia o apartamento. A vítima estava no quarto, dormindo.
José Lúcio teria desconversado. Foi cortês e alegou ao namorado da vítima que estava ali apenas para apanhar um aparelho celular com a vítima, e foi embora. No entanto, ele não teria ido muito longe. Ficou a uma distância segura e teria observado quando o namorado deixou o residencial para ir ao escritório da firma onde trabalha. Era quase meio-dia.
Foi então que ele teria invadido o apartamento sem dar chance para o rapaz que ainda estava dentro do imóvel esboçar alguma reação. Se dirigiu ao quarto onde encontrou Karina nua, coberta apenas com um lençol. Ela acordou, houve uma discussão rápida e em seguida o golpe fatal na mama esquerda.
José Lúcio foi preso pela Polícia Civil ainda em flagrante, escondido no forro da residência de uma amiga. A prisão foi transformada em preventiva, e ele aguarda o decorrer no processo no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen).
O mestre de obras, que estava trabalhando em Macapá, foi denunciado por homicídio qualificado pelo motivo “torpe, com recurso que dificultou a defesa da ofendida e por razões da condição de sexo feminino (feminicídio).”
Karina tinha 3 filhos de um relacionamento anterior, mas apenas os dois menores moravam com ela e o mestre de obras. Após a destruição da residência no fim do relacionamento e de uma ameaça de morte, ela havia procurado a Delegacia de Mulheres no dia 14 de agosto, quando recebeu uma medida protetiva.