Por SELES NAFES
Quase sete meses depois do início da pandemia de covi-19, o amapaense respira mais aliviado, mas está longe de poder guardar a máscara e o álcool em gel, como confirma o chefe da Superintendência de Vigilância Sanitária do Amapá (SVS), Dorinaldo Malafaia. É importante lembrar que a Europa vive a 2ª onda da doença e o Estado está na fronteira com a Guiana Francesa.
Durante algumas semanas, houve diferença entre os dados que o Amapá apresentava sobre a covid e as informações entabuladas pelo consórcio de comunicação encabeçado pela Globo. No entanto, depois de muito diálogo, a emissora passou a entender e ressaltar que as novas mortes registradas no Amapá eram, na verdade, de períodos passados que ainda estavam sob investigação.
O Amapá está hoje na fase de estabilidade com queda de mortes, mas houve períodos críticos, especialmente em maio.
“Foi quando perdemos muitas pessoas. Muitas mortes. Pensamos que íamos perder o controle”, confessa Malafaia. Até a última terça-feira (6), mesmo com 722 mortes e 48,9 mil casos, o Amapá ostentava o título Estado com o menor índice de óbitos.
Qual a nossa condição hoje?
Temos uma estabilidade no número de casos com pequenas oscilações de crescimento, mas são oscilações que nas últimas oito semanas não vimos crescimento da curva.
Na Nova Zelândia, Espanha, Itália houve 2ª onda. Isso está descartado aqui?
Não. Temos uma conexão muito forte com a Guiana Francesa e os voos internacionais voltaram, apesar do alerta de 2ª onda na França. Isso é um ponto de fragilidade. Comemoramos a estabilidade, mas está demonstrado que podemos ter uma 2ª onda da doença. Estamos na época do ano da síndrome gripal, e a covid é um vírus. De fato não podemos baixar a guarda. É comemorar sem relaxar.
Qual foi o período mais difícil da pandemia no Amapá?
Foi em maio, quando chegamos a ter 70 mortes em uma semana. A gente pensou em alguns momentos que não haveria controle. Foram muitas perdas em maio. Foi um desgaste psicológico e físico muito grande.
Quantas horas vocês trabalhavam por dia nesse período?
Eu dormia três a quatro horas por noite durante quatro meses. Foi muito difícil. Foi o maior desafio da minha vida. Chegamos a nos sentir impotentes. Vemos pandemias em filmes, estudamos sobre elas, mas nunca tínhamos vivenciado.
A cooperação entre Estado e prefeituras continua? O que está sendo feito?
Estamos tentando manter o hábito nas pessoas do uso da máscara e distanciamento.
Mas em sete meses você acha que as pessoas ainda não criaram o hábito?
Sim, mas tem muita gente já andando sem máscara. Fui no Lourenço (Calçoene), por exemplo, e muito pouca gente estava usando.
Não foi perigoso o Estado desativar os centros de internação de pacientes com covid?
O que foi feito na verdade foi um remanejamento para dentro do HU, que hoje consegue dar essa retaguarda. Além disso, o custo de um centro é muito alto para atender duas ou três pessoas por dia. Por mais que a doença volte a crescer, o HU ficou muito bem estruturado para atender.
Qual a tua expectativa sobre a vacina?
O grande desafio não é a produção, mas a logística de distribuição. Com uma população de 200 milhões de habitantes, o Brasil precisará de uma operação de guerra para chegar com a vacina em todas as regiões, se não haverá problemas sociais.