Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Bia Nelluty, 10 anos, e Aninha, de 15 anos, tiveram seu lançamento artístico de uma maneira, no mínimo, excêntrica: uma música de protesto sobre o apagão no Amapá. E fez um sucesso tremendo nas redes sociais.
O reggae de tons leves e versos cômicos guarda uma crítica ao atual estado de coisas pelos quais os amapaenses têm passado e, de alguma maneira, expressa um pouco da visão desse segmento infanto-juvenil sobre tudo o que está ocorrendo.
“A gente estava aqui sem luz e tocando e cantando, aí o papai falou: bora compor uma música? e saiu”, lembrou Bia Nelluty, que executa o vocal da canção.
Sua prima, Aninha, toca o ukulelê, que faz a música ter um caráter bem singelo e característico. Quando postado na internet, o sucesso foi instantâneo.
Muito disso também se deve ao produtor que as garotas tiveram, o papai da Bia, Fineias Nelluty, multifacetado artista amapaense com décadas de carreira.
“Eu ia ajeitando uma coisa aqui e outra ali, mas o mérito é delas” contou Fineias. Ele recebeu o Portal SN em sua casa junto com as meninas para gravar um novo vídeo delas tocando e cantando a mesma música.
Apagão
Para Aninha, o racionamento gerado pelo apagão “está sendo horrível”, mesma opinião da Bia. O pior é dormir no calor e os carapanãs. Para amenizar o desconforto, Aninha dorme antes da energia faltar, porque consegue manter o sono até de manhã.
Fineias ajudou a ajustar detalhes da música. Fotos: Marco Antônio P. Costa
Letra
Os transtornos do blecaute não escaparam da agudez da letra. Na canção, elas relatam sobre a falta de água, de gelo, a cara de zumbi, pedem ironicamente o retorno de Janary Nunes e lembram do preço inflacionado do açaí.
O tio e um primo ficaram praticamente o dia todo em uma fila de uma fábrica de gelo em Mazagão, por isso “a fila de gelo é ali no Matapi”, é um exemplo das referências na música.
Bia e Aninha: cara de zumbi, acidez na medida certa e bom humor criticam transtornos do apagão
Coruja
O pai e tio coruja se orgulha da filha e da sobrinha e as incentiva musicalmente, apesar de também incentivar seus estudos. Bia tem um inglês muito bom e gostaria de ser uma cientista. Já Aninha, gosta de psicologia. Ela disse ter vergonha, mas também quer ser artista. Bia nem pensa na possibilidade de não ser uma cantora.
No fim das contas, em meio ao caos, o bom humor, a ironia e música de uma nova geração de amapaenses acabaram dizendo o que muitos queriam ter dito.