A invenção do tempo

Este tempo foi definido por alguns dos mais importantes homens e mulheres que nos antecederam. Vou lhes contar como aconteceu a invenção do tempo.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA*

Alguns acham que o ano tem doze meses por causa da ciência, por tantas ou quantas marés, pelas quatro estações ou até pela volta completa da terra em torno do sol. Outros, mais sábios, nunca se perguntaram o porquê. A verdade é que este tempo foi definido por alguns dos mais importantes homens e mulheres que nos antecederam. Vou lhes contar como aconteceu a invenção do tempo.

Quando o mundo estava sendo criado, pensaram em chamar os cientistas, mas estes são chatos e exigentes demais. Pensaram nos executivos, mas estes nunca têm tempo para nada e seu egoísmo faria o ano durar a vida inteira. Os professores foram cotados, mas seus sentimentos de amor exagerado fariam o ano durar no máximo duas semanas. Médicos, engenheiros, operários e pescadores, todos de alguma forma poderiam mexer – para mais ou para menos – na definição da duração do ano.

Enquanto Drummond pensava sobre itabirismos. Fotos: Divulgação/Internet

Foi então que pensaram: chamemos os poetas. Eles amam como os professores, sofrem como os operários, esnobam os cientistas e detestam os executivos. Eles terão a medida certa.

Na importante conferência, aqueles poetas todos que foram convocados, presididos por nossa Cecília Meireles e Florbela Espanca. O debate foi acalorado. O pessimista Augusto dos Anjos teve de ser ouvido com cautela, assim como todos os niilistas. Os demasiadamente “alegresinhos” também eram olhados meio de banda. Baudelaire chiava pelos corredores. O poeta do amor, esse sim, teve bastante atenção. Talvez a aura sulamericana tenha contribuído para isso. Neruda tinha cheiro de Lhamas e, mesmo assim, pôde discursar sem contagem de tempo, enquanto Drummond pensava sobre itabirismos.

Emily Dicknson, Buckovsky e Hemingway quase fizeram uma conferência à parte. Bilac surgiu com “ora direis, ouvir estrelas” e encantou a todos.

O chileno Pablo Neruda tinha…

… cheiro de Lhamas e, mesmo assim, pôde discursar sem contagem de tempo

Decerto com dificuldades, mas indo lá e indo cá, decidiram. Concluíram que o ano deveria ter o tempo certo pra gente poder se apaixonar e se desapaixonar. Pra gente sofrer e depois se reerguer. Para trabalhar e para descansar. Até para odiar e perdoar. Pra perder a esperança e se cansar e, ao olhar uma criança brincando, na vida e na luta voltarmos a acreditar.

Os poetas, gente confusa e meio escanteada, são os que definiram tudo isso, porque vivem da vida e porque todos os dias buscam entender a si mesmos e a contar e prosear a alma das pessoas. Fizeram apenas uma ressalva: definir tempo é uma bobagem! Um ano inteiro pode acontecer em um dia, em algumas horas.

Estabeleçam o tempo que quiserem, só não se preocupem tanto com isso ao ponto de esquecer do mais importante: viver!

Aos poetas! Feliz ano novo!

*Marco Antônio P. Costa é fã de Neruda, sonha em ver uma llama de perto e deseja a todos um feliz 2021.

Seles Nafes
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