Macapá é carioca, já é, mano?

P.Help seria nossa Copacabana, os lados do trapiche Ipanema, a pedra do Arpoador já está ali na frente da Fortaleza de São José de Macapá.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA*

Macapá é a capital brasileira mais carioca fora do Rio de Janeiro, é o que afirmo e posso provar.

A maior torcida deste rincão é a do Flamengo, a segunda maior, do Vasco. Em dia de “clássico dos milhões”, mais parece que estou caminhando pela Mem de Sá, no boêmio Bairro da Lapa. São bandeiras na frente das casas, nos carros, gente com as camisas dos time pelas ruas e bares lotados. Ou não é assim também em Macapá?

Até o meu sofrido e glorioso Botafogo, que não tem no tamanho da torcida a maior de suas virtudes, por aqui tem umas quatro ou cinco torcidas organizadas – e crescendo! Trata-se de um fenômeno. Nem nas cercanias de General Severiano, a casa do alvinegro carioca, isto ocorre.

Torcedores do Flamengo no Complexo Beira Rio, centro de Macapá. Fotos: Divulgação

Vascaínos em bar de Macapá

Botafoguenses em Macapá…

… se unem em torcidas organizadas. Fotos: Arquivo Pessoal

Mas se não te dás por convencido, vamos falar de samba. Ah, o carnaval! Escola de samba aqui, como lá, é coisa séria. É paixão, é torcida e amor. Sou daqueles que opino que na década de 1970 o carnaval e as escolas de samba ultrapassaram os clubes de futebol locais em importância social.

Macapá se polariza mais entre uma disputa do Piratão com o Boêmios do que num jogo entre Ypiranga e São José. Aliás, Mestre Vagalume, diretamente do Morro da Mangueira, manda lembranças. Veio para cá trazido por Janary para construir prédios e fez mais. Fundou a verde e rosa Maracatu, no coração da então negra e proletária Favela, hoje o central e gentrificado Santa Rita.

Macapá se polariza mais entre uma disputa do Piratão…

… com a Boêmios do Laguinho

Esses mestres que Janary trouxe, como o Mestre Júlio, contribuíram muito para o nosso carioquês. Não foram eles, porém, quem trouxeram para cá a nossa forma de falar.

Nosso chiado com um “x” bastante carregado é parecido em demasia com o do carioca, mas daí porque ambos, Rio e Grão-Pará, tinham ligação direta com a Coroa Portuguesa e o contato com os gajos nos rendeu tal característica. Minha fonte, neste caso, é nada mais do que palpites descompromissados de mesa de bar, às vezes mais confiável do que muito Phd negacionista por aí…

Mas também tem diferenças importantes. A portentosa bustela (de onde inventamos esse termo?), no Rio, é apenas uma melequinha. Pão francês é pão de sal. Mangueira é borracha, pincel atômico é pilot, égua é apenas a mulher do cavalo e eles não sabem o que é conserva, donde prevejo dificuldades para mazaganenses que visitam a cidade maravilhosa.

Cariocas não sabem o que é “conserva”

Eles não são muito chegados em plural, adoram desempregar o pobre. O que eles acertam, é falar costas – a parte posterior do corpo humano –, coisa que o amapaense insiste em chamar no singular, “de costa”, sem o “s”, como se fosse a Costa do Marfim ou uma costa litorânea qualquer.

Contudo, opino que é mais que isso: o macapaense tem o jeito de ser do carioca. A malemolência, o jeito de levar a vida. Para o bem e para o mal, fazendo juízo de valor mesmo.

Até no indesejável crime organizado há comparações. Lá, os traficantes se refugiam nos morros, se misturando às comunidades. Aqui, eles se encruaram nas nossas áreas de ressaca. E quando a polícia invade é a mesma tensão para os moradores. É muita onda na invasão!

Eles têm comunidades nos morros…

… e nós temos nas áreas de ressaca

Uma vez vi uma dondoca paulistana, metida a besta que só ela, falando que o Rio era um grande balneário. Ri muito. E é. Carioca prefere viver a vida, do que morrer trabalhando.

Aqui é mais ou menos igual. Não confunda-se isso com preguiça ou vagabundagem, são apenas prioridades, se é que vocês me entendem.

A grande diferença mesmo é que não somos um povo praiano. Tivéssemos aqui praias como as do Rio era selado que iríamos virar sucursal. E com alegria, ao menos no meu caso.

Praias de Macapá. Foto: Cláudio Rogério

Praia do RJ

Mas juro pra vocês que naqueles dias iniciais de apagão, quando vi as praias da frente de Macapá lotadas de pessoas se refrescando, como nunca vira antes, pensei que nem isso mais ia faltar. Não fosse a superpopulação de arraias terem feito a festa em pezinhos cabuçus, acho que poderia vingar. Aí a Cidade Nova seria uma Praia Vermelha, P.Help seria nossa Copacabana, os lados do trapiche Ipanema, a pedra do Arpoador já está ali na frente da Fortaleza de São José de Macapá, Santa Inês e Araxá seriam Leblon e, certamente, a Fazendinha seria nossa Barra.

Égua, não deu. Mas ficou a dica, já é?

*amapaense, 1/3 carioca, torcedor do Botafogo e do Boêmios do Laguinho e exímio admirador de conserva.

Seles Nafes
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