Brasileiros atravessam a fronteira para serem vacinados na Guiana

Centenas de brasileiros já foram vacinados porque na Guiana há sobra de vacinas. A própria população estaria boicotando a imunização
Compartilhamentos

Por HUMBERTO BAÍA, de Oiapoque

Há pelo menos cinco dias as cenas se repetem. São brasileiros e mais brasileiros que vivem em Oiapoque, cidade a 590 km de Macapá, atravessando o rio para chegar à Guiana Francesa em busca da tão desejada vacina contra a covid-19. O motivo: a população guianense estaria boicotando a vacinação. 

A procura de brasileiros pela imunização ficou grande na última sexta-feira (19), depois que começou a circular no município a notícia de que as autoridades sanitárias da Guiana Francesa tinham vacinado alguns brasileiros de Oiapoque, maiores de 18 anos.

Mesmo com a fronteira Brasil/França fechada por causa da pandemia, dezenas de moradores começaram a atravessar todos os dias o rio em catraias (embarcações da região) para chegar em Saint-Georges, primeira cidade da Guiana do lado francês.

Eles ignoram um documento da prefeitura de Caiena (o equivalente ao governo estadual) onde é informado que apenas os brasileiros que moram na Guiana seriam atendidos. Mesmo assim, centenas brasileiros já foram vacinados. Só no último domingo (21), o Centro de Saúde de Saint-Georges imunizou mais de 300 pessoas, de acordo com relatos.

Dona Ana da Silva Feitosa, de 67 anos, conseguiu ser vacinada e voltou feliz para casa.

“Depois de ouvir que estavam vacinando, minha mãe e meus dois irmãos foram de madrugada pra lá e conseguiram ser vacinados. Eles estão até com a data marcada para a segunda dose. A sensação foi de alívio num momento de incertezas que vive o Brasil”,  disse o professor Ivaldo Feitosa, um dos filhos de dona Ana. 

“Eu já solicitei um agendamento e quando autorizarem eu vou lá. Estamos na expectativa. Hoje fiquei mais esperançoso com essa notícia do governo do Estado de ter comprado 450 mil doses. Agora temos esperança dos dois lados”, acrescentou.

No dia 21, dona Ana, de 67 anos, atravessou a fronteira e foi imunizada. Foto: acervo particular

Data para segunda dose já foi marcada: 18 de abril

Longa fila nesta terça-feira (23)…

…para chegar até a porta do centro de saúde de Saint-Georges. Fotos: Humberto Baía

Agendamento

Todos os dias, pelo menos 200 brasileiros estão sendo cadastrados para a vacinação que foi suspensa hoje (23). A informação, não oficial, é de que a Guiana estaria repensando a estratégia para continuar atendendo brasileiros.

“Essa fila é para agendamento. Ficamos sabendo que tem gente desde sexta, sábado e domingo sendo vacinada. Uma galera tomou a vacina de bico fechado. Muito empresário tomando a vacina caladinho, sem falar nada”, reclamou uma moradora.

Aviso da prefeitura de Caiena: só brasileiros que moram em solo guianense serão atendidos

Há relatos de que na Guiana Francesa há sobra de vacinas porque os habitantes estão desconfiados com a imunização por não acreditarem na existência do coronavírus. Por isso, parte da população está fazendo uma espécie de boicote. Melhor para os moradores de Oiapoque.

No entanto, não são todos os brasileiros que estão buscando a vacina. Na aldeia Kumenê, confusos por causa das fake news, os índios se recusam a ser imunizados, apesar de todos os argumentos das equipes da prefeitura.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!