Por RODRIGO ÍNDIO
Em Macapá, nos locais em que a paisagem é desenhada por palafitas, barracos, lixo, esgoto a céu aberto e onde dificilmente serviços sociais chegam, uma organização criminosa criou uma espécie de programa assistencial de distribuição de alimentos. É o que mostram vídeos divulgados nas redes sociais no suposto dia do aniversário de criação da facção no Amapá.
Nas imagens, pessoas de aparência humilde estão ao lado de cestas básicas gravando mensagens de agradecimento. Algumas falam visivelmente amedrontadas.
“Agradeço a todos, né, que chegaram até aqui. Hoje no momento não tinha nada (…) Deus enviou no momento certo que a gente precisa (…) vou continuar orando por cada um de vocês”, diz uma senhora, que é filmada pelos bandidos ao receber uma cesta básica.
Em outras filmagens, duas pessoas parabenizam a organização criminosa, desejam muitos anos de vida e afirmam que a “ajuda” chegou em boa hora. No fim dos vídeos, os integrantes retribuem com um “amém”.
Os vídeos viralizaram. Na web houve especulações de que ação seria uma espécie de troca de favores. Os criminosos ajudam os pobres moradores em troca da lei do silêncio, ou seja, para a comunidade não denunciar os crimes e garantir conivência para o tráfico de drogas.
Outros internautas, levantaram a hipótese da necessidade do povo carente e a falta assistência do poder público.
“Onde o Estado não chega, o crime organizado preenche a lacuna deixada pelo governo”, disse um internauta.
De acordo com o capitão Érico Costa, do Batalhão de Força Tática, o objetivo em distribuir cestas de alimentos é uma tentativa de fazer uma “inversão de valores”. Segundo ele, os criminosos tentam mostrar que estão do lado da população, da comunidade carente e das pessoas famintas, quando na verdade ocorre o oposto.
“O dinheiro que eles utilizam para fazer esse tipo de ação é vindo do tráfico de drogas, onde centenas de jovens são cooptados pra entrar no mundo do crime como traficantes ou dependentes. O tráfico em si gera um ciclo de crimes. Os dependentes acabam por praticar furtos, roubos, latrocínios para conseguir dinheiro suficiente para manter seu vício”, detalhou.
O oficial militar solicita para que a população não acredite que o tráfico beneficia. Ele lembra que cidadãos de bem, que são a grande maioria na sociedade, são os olhos onde a polícia não está e que podem contribuir para o combate destas ações criminosas.
“A gente pede à sociedade que se mantenha em ajudar o trabalho da Polícia Militar, que ela consiga identificar onde as células da facção estão instaladas no seu bairro, na sua comunidade e que possam fazer a denúncia para o 190 ou para o Disk Denúncia do Batalhão de Força Tática (96) 99157-3131. A identidade será preservada”, concluiu.
Durante a madrugada de quarta-feira (24) a Polícia Militar (Força Tática e 1° BPM) interrompeu uma festa em comemoração aos 6 anos de criação da organização criminosa, no Bairro Santa Inês, zona sul de Macapá. No local foi encontrado bebidas alcoólicas, fogos de artifício, celulares sem documentos e drogas. Duas pessoas foram presas.