Por LEONARDO MELO
O delegado César Ávila, da Homicídios, explicou ao Portal SelesNafes.Com, nesta terça-feira (20), qual teria sido a participação dos 5 policiais militares que foram presos na semana passada acusados de espancar um jovem e executar outro, após uma confusão em uma casa noturna de Macapá. Os nomes dos investigados não foram revelados pela Polícia Civil.
O crime ocorreu na madrugada do dia 3 de julho de 2019, por volta de 3h15, ao lado de uma casa noturna, na Rodovia JK, próximo à rotatória da Rua Hildemar Maia, no Bairro Jardim Marco Zero, zona sul de Macapá.
Naquele dia, Rui Guilherme Vieira dos Santos Filho, de 22 anos, foi morto com tiros nas costas, enquanto um amigo dele foi espancado e teve o rosto desfigurado por chutes e socos. Contudo, sobreviveu e é uma das testemunhas-chave para a conclusão do inquérito e para o caso ser levado à Justiça.
Os 5 policiais presos já foram indiciados pelos crimes de lesão corporal de natureza grave e homicídio. Mas, segundo a polícia, há ainda outros três envolvidos no espancamento, mas eles ainda não foram identificados. Por isto, os 5 militares indiciados ficarão presos por pelo menos 30 dias, para que não atrapalhem as investigações.
Imagens de dezenas de câmeras de dentro e de fora do estabelecimento ajudaram a polícia a entender a dinâmica do complexo caso. O delegado explicou ao portal SN como tudo aconteceu. Veja:
Segundo delegado Ávila, houve uma confusão durante a festa, o que fez com que várias pessoas corressem para fora do estabelecimento, dentre as quais estavam as duas vítimas.
O sobrevivente relatou que ele e o amigo Guilherme já estavam em frente ao local da festa, após a confusão, aguardando chegar um transporte por aplicativo, quando um dos agressores envolvidos na confusão se aproximou e deu um tapa no rosto de Guilherme.
Na sequência, as vítimas tentaram se desvencilhar das agressões, correndo pela rua que fica ao lado da casa noturna. Mas, os agressores, posteriormente identificados como policiais militares que estavam de folga e armados, foram atrás.
“Alguns tiros são dados em direção às vítimas já da esquina do estabelecimento, mas não atinge ninguém. Um deles vai de carro atrás das vítimas e as fecha com o veículo. Uma das vítimas [Guilherme] retorna correndo para a frente da casa ‘Conveniência JK’ [local da festa], enquanto a outra começa a ser espancada. Quando Rui Guilherme tentava fugir, um dos que espancava a outra vítima, saca a arma e atira pelas costas”, relata o delegado.
Guilherme morreu na hora com 3 tiros nas costas. O outro rapaz que era espancado desmaiou de tanto apanhar. Ele foi deixado lá, sem que os agressores prestassem socorro. O rapaz espancado teve graves lesões no maxilar e no rosto.
De acordo com o delegado, os envolvidos dificultaram ao máximo as investigações, com ameaças às testemunhas e conluio entre si. Por isto, a apuração levou 1 ano e 9 meses para identificar 5 deles.
“São 9 policiais militares ao todo que estavam na festa e na confusão. Mas 5 deles, que foram presos, foram identificados com participação direta. Os outros não contribuem com as investigações, não declaram o que ocorreu antes, durante e depois da festa e do crime”.
Cena do crime
Em baixo do corpo da vítima, a perícia achou um revólver de calibre 22. Segundo a polícia, a arma tinha uma munição percutida – ou seja, foi acionada, mas não deflagrada, o disparo não ocorreu – e outra intacta. O revólver, segundo o delegado Ávila, foi periciado. E comprovou-se ineficaz, inutilizável. Para os investigadores, a arma foi ‘plantada’ na cena do crime.
“Analisamos todos os vídeos disponíveis, e outros elementos colhidos, as imagens mostram, claramente, até o momento em a vítima levanta a camisa na festa para limpar óculos na festa, e não revela arma alguma. As imagens do momento do crime, dos tiros nas costas, mostram que em momento algum ele esboça pegar a arma. Mas, estranhamente, essa arma apareceu na cena do crime. Depoimentos de testemunhas também não falam em nenhuma arma”, reforçou o delegado.
Segundo ele, a polícia tem várias filmagens de dentro e fora da festa, de momentos que antecedem o crime. Elas foram minuciosamente analisadas. É possível afirmar que Guilherme apenas se divertia e não provocou confusão com nenhum dos participantes da festa. As imagens também confirmam todo o depoimento do colega da vítima, que apesar de espancado pelos policiais, sobreviveu.
“Não vimos qualquer atitude por parte das vítimas de provocar ou se envolver em qualquer confusão, ao contrário. E as imagens externas mostram como o crime aconteceu e não deixam dúvidas de como os fatos se deram”, assegurou Ávila.