Professora denuncia agressão policial em Cutias; PM nega

Abalada, Elizete preferiu não falar sobre o caso.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

A professora da rede estadual de ensino Elizete Tavares Vilhena, de 40 anos, ficou com o nariz quebrado e aparece em fotos ensanguentada, após uma abordagem policial realizada no fim da tarde de terça-feira (25), no município de Cutias do Araguari, distante cerca de 137 Km da capital. A PM afirma que a mulher e seu esposo tumultuaram a abordagem e as escoriações ocorreram após a mesma cair no chão, puxada por seu filho.

Qual a versão da professora?

A professora Elizete tinha acabado de chegar em Cutias, após viagem à Macapá, e estava descansando, por volta das 16h30h, quando seu esposo recebeu uma ligação informando que o filho do casal, Carlos Eduardo Araújo, estava sendo abordado pela PM na orla da cidade.

O casal seguia em seu carro até o local da abordagem, no entanto, no meio do caminho, viram o filho vindo em direção contrária dirigindo seu veículo. O casal parou e, neste momento, a viatura da polícia se aproximou e teria começado a abordagem violenta.

“No momento que em que ia parando o carro eles já foram totalmente agressivos, apontando fuzil para o carro. Eles pararam, frearam bruscamente na frente, gritando, falando palavrões absurdos. Palavrões que depois eles disseram terem sido falados pelo marido da professora. Iniciaram com uma abordagem totalmente errada, agressiva”, contou uma fonte de Cutias.

Um dos PMs teria solicitado que o marido saísse do carro, e não pediu o mesmo para a mulher. No entanto, Elizete saiu e pediu permissão para gravar a abordagem, o que teria sido autorizado.

A professora iniciou a gravação narrando a abordagem, falando que estava equivocada e que iria procurar a corregedoria da PM. Ao perguntar a um policial o seu nome, o mesmo já teria se virado desferindo golpes e imprensando a mulher contra a viatura da PM. Desesperado, o esposo tentou agarrar o policial por trás.

“Ela não tinha nem como defender, porque um homem daquele tamanho dando vários socos no rosto dela e a única coisa é que tentava defender o rosto, mais nada. Aí o telefone caiu pra debaixo da viatura. Quando o filho viu que o marido tava tirando ele de cima de Elizete, a puxou, saiu arrastando-a de lá para ele parar de bater, mesmo assim o policial ainda foi atrás de Elizete até uma varanda de uma residência”, complementou.

No posto de saúde do município a agressividade teria continuado. O portal SelesNafes.com conseguiu contato com a professora, entretanto, ela preferiu não falar sobre o caso alegando que está muito abalada e que teme represálias. Servidores da saúde, que também preferiram não se identificar, informaram que foram agredidos verbalmente pelos policiais. Diversas testemunhas acompanharam o ocorrido.

Todos vieram para Macapá. A professora foi atendida no Hospital de Emergências e em seguida conduzida até o Ciosp, onde figura como acusada em uma denúncia de desacato feita pelos policiais militares.

Machucado no nariz teria sido produzido pelo próprio filho da professora, afirma PM

O que dizem os PMs?

O relatório de ocorrência dos policiais militares informa que uma patrulha abordou um grupo de pessoas com suspeita de estarem consumindo drogas. Na abordagem, os policiais pegaram o celular de um dos suspeitos e olharam as mensagens de WhatsApp, onde o mesmo estaria encomendando uma compra de entorpecentes. O dono do celular se identificou como Hugo e em sua companhia estava Carlos Eduardo Araújo, filho da professora Elizete.

Ao ler as mensagens e deduzirem que Hugo, que é de Macapá, provavelmente fosse um traficante, a equipe da PM colocou o rapaz no carro e o estava levando para a residência onde estava hospedado, para fazer uma revista. No entanto, no meio do caminho, um veículo teria feito uma aproximação da viatura com uma freada brusca. Após decidirem abordar o veículo, seu Francisco, o condutor do carro, marido de Elizete, teria gritado por três vezes que não iria sair do carro. Após as negativas, teria começado o desacato e o nariz sangrando teria sido ocasionado pelo próprio filho da professora.

“E a sra. Elizete veio gritando em direção aos policiais que iria denunciar na corregedoria, em tom de ameaça, e neste momento começou a filmar. Que em ato contínuo a mesma puxou pelo ombro deste signatário para filmar o nome, momento em que por reflexo houve uma batida no celular da mesma, que veio cair no chão e começou um empurra empurra, onde a mesma lesionou o braço deste signatário com arranhões (…) e seu filho Carlos Eduardo puxou a sua mãe, onde ela veio a cair no chão lesionado cotovelo e possivelmente o nariz”, diz trecho do relato dos PMs.

Ao Portal SN, o porta voz da PM, tenente Josiagab, reafirmou parte da história repassada pelos policiais e informou que o Comando da corporação já determinou abertura de averiguação sobre os procedimentos dos policiais acusados.

O prefeito de Cutias, Raimundo Barbosa Amanajás (Pros) lançou uma nota de repúdio sobre o ocorrido. A Secretaria Extraordinária de Políticas para as Mulheres do Estado do Amapá também repudiou os atos de violência contra a mulher e declarou estar em acolhimento com a professora, assim como cobrando uma posição do comando da PM. O Sinsepeap, sindicato dos professores do Amapá, também repudiou o ato de violência, assim como vereadores de Cutias, como a vereadora Eva Pereira (PDT).

O celular da professora está quebrado e ficou na delegacia. Ela informou que deve registrar boletim de ocorrência nesta quinta-feira (27), já que não havia conseguido até o momento.

Seles Nafes
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