Por SELES NAFES
Até agora, pelo menos três servidores estaduais com altos salários procuraram a polícia e a Secretaria de Administração do Estado (Sead) para informar que tiveram a remuneração mensal e o 13º desviados numa operação bancária fraudulenta. Criminosos conseguiram transferir as contas desses funcionários no Banco do Brasil para um banco virtual, onde os salários acabaram sendo depositados pelo Estado. Eles ainda não conseguiram reaver o dinheiro.
Entre as vítimas está um procurador do Estado e auditores fiscais que, por motivos de segurança, não terão os nomes divulgados nesta reportagem. No último dia 30 de abril, o procurador levou um susto ao verificar que a primeira parcela do salário e metade do 13º salário não tinham caído na conta. Todos os colegas de repartição dele haviam recebido suas remunerações, menos ele.
Depois de procurar por telefone inúmeras vezes seu gerente no Banco do Brasil para perguntar o que havia ocorrido, ele acabou sendo atendido por outro gerente do banco que prometeu verificar a situação. O bancário descobriu que alguém solicitou a portabilidade de sua conta salário para o Banco Inter.
“Não tenho conta nesse banco e nunca pedi portabilidade. Quando ele me falou isso, entendi que tinha ocorrido um crime ”, recorda o procurador.
Depois, pessoalmente, a vítima conseguiu falar com seu gerente, que verificou no sistema que o fraudador solicitou a portabilidade em um caixa eletrônico no dia 19 de abril, por volta das 17h.
“O gerente, em vez de me ajudar, indicou um call center e nem era aquele número. Mas fui redirecionado para o call center correto onde só foi possível pedir o cancelamento de todos os meus cartões. Eu preenchi um requerimento na mesa do gerente solicitando a devolução do valor”.
A vítima ligou também para o Banco Inter, que dias depois confirmou que tinha ocorrido uma fraude e a conta havia sido encerrada pela instituição. No entanto, o banco também não assumiu qualquer responsabilidade pelo prejuízo.
Falha e mais vítimas
O procurador prestou depoimento na 6ª Delegacia de Polícia de Macapá, onde foi aberto um inquérito para investigar o caso. Pelo menos por enquanto, já foi possível perceber que, aparentemente, uma falha grotesca no procedimento de segurança ao correntista consolidou o golpe.
É que quando um pedido de portabilidade de conta é feito, o banco tem sete dias de prazo para concluir a transferência, e antes disso precisa entrar em contato com o titular da conta para confirmar a intenção dele de trocar de banco.
“Ninguém me ligou do banco. (…) E, apesar do requerimento que eu fiz, descobri que não foi feito nenhum procedimento para a devolução do meu dinheiro. Eles prometeram que até hoje (5) eu seria ressarcido, mas isso também não ocorreu e hoje eles nem me atenderam. Por isso, estou ajuizando uma ação cível”, adiantou.
O servidor da PGE também procurou a Sead para pedir documentos para subsidiar a ação, e descobriu que mais dois auditores fiscais da Receita Estadual também foram vítimas do mesmo tipo de fraude: portabilidade do Banco do Brasil para o Banco Inter.
“E um colega meu do trabalho também descobriu agora que fizeram um pedido de portabilidade da conta dele, e ele só não perdeu o salário porque a folha de pagamento já tinha sido fechada”.
Procurada pelo Portal SelesNafes.Com, a secretária de Administração do Estado, Suelen Amoras, confirmou que o órgão foi acionado pelos servidores e garantiu que fez todas as verificações possíveis atrás de uma possível falha no órgão, mas nada foi encontrado.
“Checamos com a nossa equipe e o domicílio bancário destes servidores continua sendo o mesmo. (…) Quem está fazendo isso está escolhendo servidores do teto salarial”, observou a secretária. O teto a que ela se referiu é de R$ 39 mil.
O Portal SN também tentou contato com a gerência da agência Estilo, do Banco do Brasil, em Macapá, mas ninguém retornou as ligações e nem mensagens.