Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
O lançamento do longa metragem de produção amapaense “Super panc me”, do diretor Marcus Vinícius, comprova o novo momento produtivo, de qualidade e promissor pelo qual passa o audiovisual produzido no Amapá.
São curtas, documentários, produções com mais recursos – ou feitos de forma mais artesanal e de “guerrilha” -, diretores, técnicos, atores e centenas de pessoas envolvidas em um processo que, certamente, está forjando e marcando toda uma geração de artistas.
É neste contexto que Super Panc Me se encaixa, quando Marcos Vinícius, de 36 anos, formado em Comunicação Social na Universidade de Brasília (UnB), depois de várias experiências dentro e fora do estado, dirigiu o filme longa-metragem, um desafio superior para si próprio e para todo o setor no Amapá.
A mão de obra, produção, desde os importantes operários a alguns dos itens mais técnicos, tiveram a assinatura majoritária de profissionais amapaenses o que, sem dúvidas, transformou-se em uma oportunidade para quem sonha e faz cinema na Amazônia.
Super Panc me
O filme de 55 minutos levou três anos para ficar pronto, desde a sua concepção até estar finalizado. Ele é parte dos filmes feitos com recursos do 1º edital do audiovisual do Amapá, fomento do Governo do Estado que financiou mais de uma dezena de produções com qualidade indiscutível.
O filme tem como temática as Plantas Comestíveis Não Convencionais (Pancs) e tem como personagem central Gabriela, uma blogueirinha das periferias de Macapá, que mesmo trabalhando muito entregando açaí e bacaba na sua bicicleta, passa por dificuldades financeiras para pagar aluguel e suas contas. A atriz Hari Silva executa o papel com maestria, e dá vida à personagem que em algum momento começa a conhecer o mundo das pancs e a se envolver na produção de um filme sobre o tema. É uma metalinguagem, um filme de gente batalhadora falando sobre gente batalhadora que quer fazer um filme. A vida imita arte e, neste caso, vice-versa.
A ideia do longa veio do próprio diretor, que também assina o roteiro. Marcus também estudou Ciências Ambientais, e conta ter se deparado com plantas comestíveis não convencionais quando ainda morava em Sobradinho (DF), no seu próprio quintal, e desde então se interessa muito pelo tema.
O nome do filme é uma alusão ao longa americano “Super size me: a dieta do palhaço”, de 2004, um documentário que demonstra a experiência de uma pessoa que passa um mês comendo apenas comida da maior rede de fast-food do mundo.
Gabriela faz o mesmo no Super Panc me, só que uma dieta de 21 dias e com as plantas que estão no nosso dia a dia, invariavelmente chamadas por todos nós apenas de “mato”. O diretor vê algo de revolucionário no tema.
“Esse tema me pega muito, acho importantíssimo se discutir sobre as plantas alimentícias não convencionais e soberania alimentar. Nesse caso foi uma ficção, a gente precisava criar um ambiente, um universo verossímil e assim contar uma história em que as PANCs estivessem envolvidas na trajetória dessa protagonista. Então, não tivemos como focar completamente nas PANCs. Mas como pano de fundo, a ideia é chamar a atenção para essa temática”, contou Marcus Vinícius Oliveira.
O “universo” que o cineasta criou é absolutamente macapaense. A sensação de um amante da sétima arte ao assistir a sua cidade, com suas belezas e mazelas na “telona”, causa sentimentos diferentes, certamente difusos em cada um que vê, mas também certamente orgulhoso de saber que não são apenas os estúdios de Hollywood ou do centro sul brasileiro que podem fazer cinema, e cinema de qualidade.
Gabriela ainda encontra um misterioso personagem, protagonizado pelo indefectível Joca Monteiro, que lhe serve de guia no mundo das plantas comestíveis. Joca ainda “empresta” sua emblemática Baixada Pará, no bairro Pacoval, zona leste macapaense, como set de filmagem.
O filme é para a descoberta das pancs, tanto para Gabriela quanto para o espectador, e este papel ele cumpre muito bem.
Super Panc me foi produzido com estética e voltado mais para a televisão do que para o cinema. Passará na TV Cultura (ainda sem data) e agora está na fase de ganhar o mundo através dos festivais, como o que está ocorrendo neste momento através do “Cinema de Fronteira”, no Festival Pachamama.
Sobre a experiência, Marcus agradece.
“Foi muito especial trabalhar com todos esses profissionais. Tanto elenco quanto a equipe técnica se empenharam bastante. Foi muito bom presenciar e descobrir alguns talentos, perceber que temos capacidade de realizar audiovisual de qualidade aqui no Amapá. É claro que a gente está engatinhando, no caminho de consolidar engrenagens coletivas de produção dentro desse ramo da indústria criativa. Precisamos consolidar uma certa maturidade narrativa/produtiva dessa geração para dar corda nas próximas e, assim, contarmos boas histórias que reflitam nossa realidade e nosso povo”, finalizou Marcus Vinícius.